Os chineses são discriminados até por comentaristas de futebol. Por Moisés Mendes

Atualizado em 2 de outubro de 2025 às 20:08
William do Grêmio lesionado em campo. Foto: Reprodução

Ouço rádio no carro, quando ando pra lá e pra cá na cidade. Mas tomo cuidado para não ouvir coisas que possam me desconcentrar no trânsito.

Ontem, ouvia uma resenha de comentaristas da Gaúcha sobre jogadores com lesões. Quase me desconcentrei.

Falaram de William, do Grêmio, que quebrou um dedo, e alguém disse que os chineses ‘teriam’ (falou assim, que teriam) descoberto um jeito de colar ossos com uma cola instantânea.

Outro comentarista rebateu na hora: só pode ser fake news. E o consenso que se estabeleceu foi esse: era fake news, mais uma mentira da internet. Quatro debatedores e ninguém disse peraí.

Pois não é fake news. A notícia está em todos os jornais. É um produto que permite que as partes fraturadas sejam coladas sem a necessidade de placas e parafusos.

É claro que deve ser respeitado o tempo de regeneração e consolidação da área com fratura. Mas é um avanço para a ortopedia.

Ossos da mão em raio x. Imagem: reprodução

Por que eles duvidaram do ‘milagre’ da cola chinesa? Exatamente por ser chinesa.

Se fosse uma cola descoberta por cientistas de Harvard, seria exaltada como mais uma ideia genial dos americanos.

O preconceito em relação à China, amplificado pelo fascismo trumpista, repercute em todas as áreas, inclusive em programas que tratam de futebol e são desinformados sobre o que é verdade e o que é mentira.

Os comentaristas propagaram uma mentira: a ‘notícia’ produzida por eles de que uma notícia verdadeira era falsa. Eles criaram e espalharam fake news.

(Há várias notícias sobre a cola que os comentaristas da Gaúcha trataram como galhofa na rádio. É só procurar. É o que eles deveriam ter feito com a ajuda de um estagiário.)

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/