Como aliado do clã Bolsonaro, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) tem se dedicado a uma campanha nas redes sociais baseada na narrativa de que o ex-presidente estaria sendo perseguido pelo Judiciário. No último dia 17, o parlamentar publicou uma declaração que chamou atenção: “Bolsonaro está com câncer de pele. A facada, a prisão e a perseguição têm um objetivo muito claro.”
Na postagem, Nikolas sugeriu que a prisão de Bolsonaro faria parte de um suposto “pacote conspiratório” que incluiria a facada sofrida em 2018 e o carcinoma de pele que agora acomete o ex-presidente.
A coerência do deputado, no entanto, entra em choque quando se analisam suas próprias declarações. Benefícios que ele defende para Bolsonaro, em nome de blindagem e proteção, são criticados quando concedidos a outros réus. O exemplo mais recente envolve o ex-deputado Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Nesta quinta, 2, Nikolas criticou o ministro Alexandre de Moraes com base em reportagem do portal Metrópoles, que relatou a autorização para que Chiquinho tivesse acompanhamento de um personal trainer durante sua prisão domiciliar, por motivos de saúde. O deputado escreveu: “Além de dar prisão domiciliar pro acusado da morte de Marielle, Moraes também autoriza personal trainer pra ele. Eles disseram que criminoso não teria mais blindagem… não é possível que era tudo mentira!!!!”
Corta pro Nikolas Ferreira, um deputado federal, zombando do assassinato de sua própria colega vereadora Marielle Franco. Isso é postura de servidor público? https://t.co/ccSdFaOaN1 pic.twitter.com/yU9Qy5Rdz8
— psicóloga de postinho (@topiranath) September 16, 2025
A posição contrasta com a postura adotada em abril do ano passado, quando Nikolas votou contra a manutenção da prisão de Brazão, contrariando decisão do STF.
Na ocasião, ele alegou estar apenas cumprindo a Constituição: “A Constituição Federal deixa bem claro que um deputado só pode ser preso em flagrante delito. Os que me exigem a defesa da Constituição, quando eu defendo a Constituição, reclamam. Ou seja: era para eu ter feito o quê? Descumprir a Constituição? Jurei defender a Constituição e o que ela diz. Ou seja: não há prisão (de parlamentar) a não ser em caso de crime em flagrante delito.”
A oscilação de posicionamentos também aparece em outras situações. Em janeiro deste ano, Nikolas comemorou uma decisão judicial que rejeitou ação movida pelo PT contra ele, após o deputado afirmar que Domingos Brazão — irmão de Chiquinho e também acusado de envolvimento no assassinato de Marielle — seria aliado do partido.
“Pela quarta vez, a Justiça do Distrito Federal reconheceu minha liberdade de expressão e negou pedido em ação movida pelo PT, que pede minha condenação ao pagamento de R$ 50 mil por ter afirmado que Domingos Brazão, delatado no caso Marielle Franco, era aliado petista. A decisão reafirma minha imunidade parlamentar. Ainda há magistrados que respeitam a Constituição no Brasil.”
A obsessão de Nikolas com o caso Marielle Franco vem de longa data. Quando ainda era vereador em Belo Horizonte, ele já usava a tribuna e suas redes sociais para tratar do assunto. Em um podcast, chegou a declarar: “Teve um dia que estava sendo votado lá em BH o ‘Dia da Marielle Franco’. Eu falei: primeiro que nós estamos em BH. Então assim, caguei para a Marielle. Segundo: ela não é uma pessoa flor que se cheire. Não é porque morreu que virou santo.”
O deputado também atuou contra a proposta de rebatizar um centro de saúde em Minas Gerais em homenagem à vereadora carioca. Além disso, em postagens nas quais relatava supostos episódios de hostilidade contra Jair Bolsonaro na UFMG — como bonecos enforcados e simulacros de cabeça decapitada — Nikolas questionava: “E se fosse Marielle Franco nesse lugar?”