Flotilha: 8 brasileiros se recusam a assinar documento que agilizaria a deportação

Atualizado em 3 de outubro de 2025 às 18:48
Ativistas a bordo do barco Alma, um dos que compõem a flotilha para Gaza. Foto: reprodução

Uma equipe do Itamaraty em Israel realizou uma visita de mais de oito horas à prisão de Ktzi’ot, no deserto de Negev, perto da fronteira com o Egito, onde 13 brasileiros que integravam a Flotilha Global Sumud estão detidos. Segundo membros da chancelaria ouvidos pela Folha, eles estão bem de saúde. O grupo de brasileiros inclui o ativista Thiago Ávila; Mariana Conti, vereadora de Campinas pelo PSOL; Luizianne Lins, deputada federal pelo PT; e a presidente do PSOL no Rio Grande do Sul, Gabi Tolotti.

Ainda de acordo com os diplomatas brasileiros, o governo de Binyamin Netanyahu ofereceu aos cerca de 400 presos que participavam da missão humanitária a possibilidade de assinar um documento que, segundo as autoridades israelenses, facilitaria o processo de deportação.

Oito dos 13 brasileiros teriam se recusado a assinar o documento. Membros do Itamaraty reforçam que os presos podem mudar de ideia e, por isso, esse balanço não é fixo. Até o momento, cinco estariam dispostos a aceitar os termos apresentados.

O procedimento é o mesmo que ocorreu na missão anterior de tentar furar o bloqueio de Israel, em junho. Caso a pessoa não assine, ela passa por um processo judicial de deportação. Membros da chancelaria afirmam que seguirão acompanhando o caso até que todos sejam liberados.

Thiago Ávila, que participou da missão anterior, se recusou a assinar o termo na primeira vez em que foi detido. O ativista ficou cinco dias preso, após ser detido num domingo e liberado numa quinta, quando acabou sendo expulso do país.

Thiago Ávila, ativista brasileiro presente na Flotilha Global Sumud. Foto: MRE de Israel

A Flotilha divulgou uma lista de 15 nomes de brasileiros que participavam da missão. A diferença se explica porque o fotojornalista Hassan Massoud não foi detido pois estava a bordo do barco Shein, com advogados e membros da imprensa, que não entrou na zona de risco de interceptação. Já Nicolas Calabrese, militante do PSOL, apesar de viver no Brasil há anos, nasceu na Argentina e tem cidadania italiana.

Os brasileiros detidos em Israel, segundo a Flotilha, são:

  1. Ariadne Telles
  2. Bruno Gilga
  3. Gabriele Tolotti
  4. Hassan Massoud
  5. João Aguiar
  6. Lisiane Proença
  7. Lucas Gusmão
  8. Luizianne Lins
  9. Magno Costa
  10. Mariana Conti
  11. Mansur Peixoto
  12. Miguel de Castro
  13. Nicolas Calabrese
  14. Mohamad El Kadri
  15. Thiago Ávila

A Flotilha anunciou nesta sexta que o último barco da iniciativa foi interceptado pelas Forças Armadas israelenses. O veleiro, chamado Marinette, carregava seis tripulantes. Ainda nesta sexta, o Ministério de Relações Exteriores de Israel afirmou em um post no X que já deportou quatro cidadãos italianos.

“O restante está em processo de deportação. Israel está empenhado em concluir esse procedimento o mais rápido possível”, segue o post, acompanhado de uma foto da sueca Greta Thunberg e outros ativistas detidos. “Todos estão em segurança e com boa saúde.”

O ministro de Segurança Interna de Israel, o extremista Itamar Ben-Gvir, visitou o porto de Ashdod na noite de quinta, para onde as Forças Armadas haviam levado os membros da Flotilha antes de transferi-los para a prisão no deserto, e chamou os ativistas de terroristas e de apoiadores de assassinos.

“Terroristas. Olhem para eles. Apoiam assassinos. Aliás, os barcos deles eram uma grande festa. Eles não vieram para ajudar, mas sim pró-Gaza, pró-terroristas”, afirma Ben-Gvir.

Ben-Gvir fez um post em sua conta no X em que afirma que Israel deveria manter os ativistas presos “por alguns meses, para que sintam o cheiro da ala terrorista”. A atual Flotilha saiu de Barcelona, na Espanha, no dia 31 de agosto, com cerca de 45 embarcações e ativistas de mais de 45 países.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.