
A Polícia Civil de São Paulo investiga se as intoxicações por metanol registradas no estado têm relação com bebidas destiladas adulteradas em fábricas clandestinas. A principal linha de apuração aponta que garrafas reaproveitadas estariam sendo higienizadas com a substância antes de serem envasadas novamente, o que pode ter contaminado os consumidores.
Segundo informações obtidas pela TV Globo, os investigadores acreditam que parte das garrafas utilizadas seriam de marcas originais, obtidas por meio de descarte irregular de bares ou de clientes. Essas embalagens seriam reutilizadas no processo de falsificação, com rótulos e selos adulterados.
O metanol ou etanol misturado ao metanol estaria sendo empregado para limpar os recipientes, mas acabaria entrando em contato com o líquido consumido pelas vítimas. As apurações começaram a partir da rota percorrida pelas bebidas ingeridas.
A polícia mapeou os bares onde os primeiros casos ocorreram, seguiu para as distribuidoras responsáveis pelo fornecimento e chegou até possíveis pontos de produção clandestina. Até o momento, não há confirmação sobre os responsáveis nem sobre a origem do metanol, substância que não tem uso autorizado para consumo humano no Brasil e costuma ser destinada apenas a fins industriais.
Para reforçar o trabalho, o Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo montou uma força-tarefa para analisar as garrafas apreendidas durante fiscalizações. Mais de mil unidades já foram recolhidas pela polícia e pela Vigilância Sanitária, sendo que cerca de 250 estão em análise no IC.

O processo inclui duas etapas: a primeira, chamada documentoscopia, verifica rótulo, selo, lacre e vedação; a segunda, no Núcleo de Química, identifica as substâncias presentes no líquido. Até agora, das dez garrafas submetidas ao exame químico, duas testaram positivo para metanol.
Segundo Mauro Renault, diretor do Núcleo de Química do IC, os resultados parciais são repassados a cada duas horas para a Polícia Civil, que conduz as investigações. A Secretaria da Segurança Pública informou em nota que os laudos vêm sendo utilizados para comprovar as adulterações e dar suporte às apurações.
O metanol representa risco grave à saúde porque, ao ser metabolizado no fígado, transforma-se em compostos tóxicos como o ácido fórmico. Por não ter cheiro, cor ou sabor, pode ser ingerido sem que a vítima perceba. Os sintomas da intoxicação incluem visão borrada, dor abdominal, tontura e respiração acelerada. Em casos graves, pode causar cegueira irreversível, falência de órgãos e até a morte.
Nos últimos dias, diferentes estados brasileiros notificaram casos suspeitos de bebidas adulteradas com metanol, o que preocupa as autoridades de saúde. O risco aumenta porque a evolução do quadro clínico pode ser rápida, e o tratamento exige atendimento imediato para reduzir os danos.
Diante do avanço das ocorrências, o Ministério da Saúde anunciou a criação de uma Sala de Situação nacional para coordenar medidas de enfrentamento em conjunto com a Anvisa, vigilâncias estaduais e municipais, além dos ministérios da Justiça e da Agricultura. O objetivo é unificar informações, ampliar as fiscalizações e impedir que mais garrafas adulteradas cheguem ao mercado.