Garrafas de destilados são vendidas por R$ 1 e facilita adulteração com metanol

Atualizado em 4 de outubro de 2025 às 10:30
Anúncio online mostra garrafa vazia de vodca sendo vendida com tampa e rótulo originais – Foto: Reprodução

Garrafas de bebidas alcoólicas estão sendo vendidas na internet por valores que chegam a R$ 1, e a prática preocupa o setor pela possibilidade de uso desses recipientes em falsificações. Mesmo com recomendações de descarte adequado, muitos bares e restaurantes ainda enfrentam dificuldades para inutilizar as garrafas originais. “A fabricante não tem um processo para recolher as garrafas vazias”, afirma José Valderi, sócio do Bar Amarelinho, em São Paulo. Com informações da Folha.

Na web, há anúncios de garrafas de marcas premium vendidas como “materiais para artesanato”, mas com rótulos e tampas originais intactos.

Segundo Lucien Belmonte, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), a reciclagem de garrafas de bebidas no Brasil gira em torno de 30%, o que facilita o reaproveitamento indevido. “A garrafa do Johnny Walker é só do Johnny Walker, a da Absolut é só dela. Mas o crime compensa”, afirmou. Para ele, a solução está na destruição dos recipientes durante o descarte e na tipificação penal da acumulação de garrafas exclusivas. Atualmente, vender ou armazenar grandes quantidades desses materiais não é considerado crime, mesmo que sejam usados em esquemas de adulteração.

Anúncio online mostra garrafa de uísque Johnnie Walker Blue Label sendo vendida por R$ 230 – Foto: Reprodução

Empresas de reciclagem, como a Massfix, compram garrafas coletadas por cooperativas e garantem que a destruição correta reduz as fraudes. “Hoje, muita coisa vai parar no aterro ou na falsificação, isso é descarte incorreto”, explica o diretor comercial Rildo Ferreira.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP) defende a inutilização das embalagens com riscos ou lixamento, já que os trituradores de vidro custam até R$ 40 mil. “O falsificador está atrás da embalagem. O maior desafio é o descarte”, diz o diretor Gabriel Pinheiro.

Arthur Rollo, ex-secretário Nacional do Consumidor, reforça que a falta de fiscalização contribui para o problema. “Se quem falsifica tiver de produzir as embalagens, o processo ficará muito mais caro e mais fácil de ser descoberto”, avalia. Ele destaca a importância da logística reversa como ferramenta para reduzir o acesso de criminosos aos vasilhames originais.

A Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) também aponta falhas estruturais na cadeia de coleta e cobra maior responsabilidade da indústria.

“O recolhimento e a trituração dessas garrafas deveriam ser feitos pela indústria que produz o produto e não pelos estabelecimentos que apenas o revendem”, afirma Édson Pinto, diretor da Fhoresp. A entidade defende que os custos da logística reversa sejam compartilhados, sem repassar o peso financeiro para bares e restaurantes, majoritariamente pequenos negócios.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina que fabricantes, distribuidores, comerciantes e consumidores compartilhem a responsabilidade pelo descarte. Entretanto, na prática, o controle é falho.