
O ex-presidente Fernando Collor de Mello, preso há quatro meses em sua cobertura de R$ 9 milhões em Maceió, enfrenta uma das piores crises de sua trajetória pessoal e empresarial. Sem mandato desde 2023, o político acumula dívidas milionárias, bloqueios judiciais e a perda da afiliação da TV Gazeta com a Rede Globo, encerrando um vínculo de quase 50 anos entre as emissoras. O rompimento foi determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após o ministro Luiz Roberto Barroso anular a renovação forçada do contrato imposta pela Justiça de Alagoas.
Com a decisão, o sinal da Globo passou a ser retransmitido pela TV Asa Branca, e a Gazeta ficou restrita à programação local, negociando nova parceria com a Band. O episódio representa um duro golpe para a Organização Arnon de Mello (OAM), grupo de comunicação fundado pela família Collor, que está em recuperação judicial desde 2019 e acumula mais de R$ 64 milhões em dívidas renegociadas. Parte do patrimônio do ex-presidente, de sua esposa e das filhas foi penhorado para cobrir obrigações trabalhistas e tributárias.
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) afirma que o grupo deve R$ 32 milhões à União, sendo R$ 23,7 milhões apenas da TV Gazeta, e descumpriu acordos de pagamento de dívidas com o FGTS, o que resultou no bloqueio de receitas publicitárias. O Ministério Público de Alagoas também investiga denúncias de crime falimentar e compra de votos durante o processo de recuperação judicial.

O colapso financeiro atinge em cheio a família. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 478 mil da esposa de Collor, Caroline Serejo, e R$ 1,3 milhão das filhas gêmeas Cecília e Celine, sob suspeita de que o valor seria uma antecipação de herança. Imóveis de luxo, como a cobertura em Maceió e uma chácara em Campos do Jordão (SP), foram penhorados para pagamento de ex-funcionários e credores.
A derrocada também expôs disputas societárias antigas. Collor é o principal acionista das empresas do grupo, que reúne rádios, jornal, site e gráfica, mas parte das cotas ainda pertence aos espólios de seus irmãos já falecidos. Em meio ao impasse, herdeiros de Pedro Collor pedem à Justiça para serem excluídos das dívidas da OAM, alegando que abriram mão da participação acionária nos anos 1990.
A condenação de Collor por lavagem de dinheiro no STF trouxe novos problemas: pessoas com esse tipo de sentença não podem administrar empresas concessionárias de radiodifusão. Para evitar a perda definitiva da outorga, o ex-presidente teve o nome retirado do quadro societário da TV Gazeta, que agora está sob gestão de seu filho, Fernando James Collor.