Os jornalões não esquecem o que fizeram há 20 anos. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 7:44
Advogado Luiz Fernando Pacheco, em defesa do deputado federal José Genoino no processo do “Mensalão”. Foto: Reprodução/ STF

Estadão, UOL, Veja, Terra e outros da segunda linha de jornais e sites das corporações reduziram a definição do jurista Luiz Fernando Pacheco, assassinado em São Paulo, a um tratamento que sugere sempre uma abordagem pejorativa.

Essa chamada de capa do Estadão, no sábado, é a síntese do desrespeito: “O que se sabe sobre a morte do advogado do Mensalão em Higienópolis”.

Um profissional reconhecido por sua atuação humanista, ao lado de grandes juristas, foi carimbado pelos jornalões, com exceção da Folha, como advogado do mensalão.

Assim tem sido desde o assassinato. A Folha surpreendeu e informou, no título de uma espécie de obituário:

“Exerceu a advocacia com humanismo para lutar por seus ideais. Luiz Fernando Pacheco atuava com a mesma paixão em grandes casos e para clientes de advocacia gratuita”.

Nos textos, Pacheco até aparece como um dos fundadores do grupo Prerrogativas, de defesa da democracia e das liberdades, e integrante da banca de advogados de Márcio Thomaz Bastos.

Luiz Fernando Pacheco ao lado de José Genoino, antes da prisão em 2013. Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Mas na maioria das vezes é citado, já no título, como advogado do mensalão. Por que esse tratamento? Porque as redações estão contaminadas pelo pré-lavajatismo, desde 2005, e seus comandos vêm desde lá.

Editores são orientados a, sempre que possível, relembrar o mensalão. Esse é hoje o jornalismo brasileiro das corporações.

Um jornalismo que, para derrotar Lula, inventou Bolsonaro. E para tentar mais uma vez tirar Lula do jogo, tenta agora inventar Tarcísio de Freitas.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/