
Um ano atrás, o bilionário Larry Ellison, cofundador e presidente da Oracle, descreveu um futuro em que a vida cotidiana seria registrada continuamente — com cidadãos e autoridades sob vigilância constante. Segundo ele, a inteligência artificial tornaria possível supervisionar tudo e todos, garantindo que “os cidadãos se comportem da melhor forma possível” porque “estaremos constantemente gravando e relatando tudo o que acontece”.
Agora, suas palavras soam mais proféticas do que nunca. A Oracle, sua empresa, tornou-se uma peça central na infraestrutura global de inteligência artificial e deverá desempenhar um papel decisivo no acordo para a compra das operações do TikTok nos Estados Unidos, após determinação do governo Trump.
A nova era da vigilância corporativa
Durante uma reunião com analistas financeiros em setembro de 2024, Ellison afirmou que a IA processaria quantidades imensas de imagens e dados captados por câmeras em carros, campainhas, sistemas de segurança e até nos uniformes de policiais. “Todo policial será supervisionado o tempo todo, e se houver um problema, a IA o reportará imediatamente à autoridade responsável”, disse Ellison.
Essa visão de um mundo sob observação total agora ganha contornos práticos com a influência crescente da Oracle em setores que envolvem vigilância digital, algoritmos e controle de dados.
Oracle e o domínio da IA
Em setembro, a empresa surpreendeu Wall Street ao anunciar um acordo de US$ 300 bilhões com a OpenAI, válido por cinco anos — um dos maiores contratos de computação em nuvem da história. O negócio prevê que a OpenAI utilizará os servidores e centros de dados da Oracle para impulsionar seus sistemas de IA, inclusive o projeto Stargate, que também conta com investimentos da SoftBank.
Durante a última teleconferência de resultados, a CEO Safra Catz informou que os contratos da Oracle atingiram US$ 455 bilhões, um salto de 359% em relação ao ano anterior.
O papel no controle do TikTok
Com o decreto assinado por Donald Trump na última quinta-feira (25), a Oracle deverá liderar o grupo de investidores que assumirá o controle do TikTok nos Estados Unidos, separando a plataforma de sua matriz chinesa, a ByteDance.
Segundo Trump, Larry Ellison e a Oracle terão um “papel grande” na gestão do aplicativo, enquanto Rupert Murdoch (dono da Fox News) e Michael Dell (fundador da Dell Technologies) devem integrar o conselho da nova empresa. O presidente mencionou ainda outros três investidores “blue chips” que participarão do grupo.
O vice-presidente J.D. Vance declarou que o algoritmo do TikTok será totalmente controlado por investidores americanos, assegurando que “a nova versão do app será operada nos Estados Unidos, do início ao fim”.
Da profecia à prática
Relatórios divulgados esta semana indicam que a Oracle deverá recriar o algoritmo do TikTok, garantindo tanto o controle do conteúdo quanto a proteção dos dados dos usuários em território americano.
A visão de Larry Ellison — de um mundo supervisionado por máquinas inteligentes e bancos de dados corporativos — deixa de ser uma hipótese futurista para se tornar uma realidade política e tecnológica concreta.