Após dois meses, impacto do ‘tarifaço’ de Trump é mais leve do que se esperava

Atualizado em 6 de outubro de 2025 às 8:43
Donald Trump, presidente dos EUA – Foto: Reprodução

Dois meses após o tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump, o impacto nas exportações brasileiras é menor do que o previsto.

Segundo levantamento da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), apenas 44,6% dos produtos exportados foram afetados pela alíquota máxima de 50%, enquanto 29,5% receberam tarifas menores e 25,9% ficaram isentos.

O estudo, baseado em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), mostra que a capacidade de redirecionar as exportações para outros mercados reduziu o impacto econômico.

O diretor de Políticas Públicas da Amcham, Fabrizio Panzini, explicou que as commodities como café, carne e açúcar, principais alvos das tarifas, conseguiram se adaptar.

“O impacto é muito importante principalmente quando se olha setorial e regionalmente. Fora das commodities, o restante acaba ficando muito mais fragilizado, como o mel do Nordeste, a madeira e os móveis do Sul e as máquinas e equipamentos do Sudeste. É um grupo que a tarifa vai derrubar as exportações caso não seja feita alguma ação”, avaliou.

Fabrizio Panzini, diretor de Políticas Públicas da Amcham – Foto: Reprodução

O setor cafeeiro foi um dos mais afetados. As exportações para os Estados Unidos, maior mercado mundial da bebida, caíram 56% em setembro em relação a 2024 e tendem a zerar nos próximos dias.

De janeiro a agosto, as exportações brasileiras aos EUA cresceram 1,6% em relação ao ano anterior, puxadas pelo desempenho do primeiro semestre. Em agosto, as vendas caíram 18,5%. No setor de máquinas e equipamentos, as previsões iniciais de paralisação total não se confirmaram.

Algumas companhias encontraram saídas internas. A Fider Pescados reduziu em 15% o preço dos produtos para manter clientes americanos e aumentou as vendas no mercado brasileiro e no Canadá. Já na indústria de madeira Randa, no Paraná, o impacto foi maior.

“Os estoques estão lotados, e estamos pagando armazéns nos portos, o que traz custo maior. Estamos sangrando o caixa e o empréstimo via BNDES não sai. A pergunta é até quando vamos conseguir segurar”, disse o CEO Guilherme Ranssolin.

Para o tributarista Leonardo Briganti, sócio do escritório Briganti Advogados, “o efeito foi mais danoso para os EUA. A ideia de reindustrializar os EUA não aconteceu. Houve alta de custo e há pequeno e médio importador sofrendo”.

Mesmo com os desafios, especialistas apontam que o Brasil conseguiu mitigar perdas graças à diversificação de mercados e às estratégias de empresas que buscam se adaptar às novas condições comerciais.