Flotilha: após deportação, ativista cobra mais firmeza do Brasil sobre detidos em Israel

Atualizado em 6 de outubro de 2025 às 8:09
O ativista Nicolas Calabrese. Foto: Reprodução

O ativista Nicolas Calabrese, integrante da delegação brasileira da flotilha Global Sumud, cobrou que o governo brasileiro adote uma postura mais firme para libertar os 13 brasileiros ainda detidos por Israel após a interceptação da missão humanitária que tentava levar ajuda à Faixa de Gaza.

Calabrese foi o primeiro do grupo a ser deportado e afirmou que os detidos estão sofrendo maus-tratos e privação de direitos básicos. A flotilha partiu de Barcelona, na Espanha, em 31 de agosto, com cerca de 45 embarcações e ativistas de 45 países. As embarcações começaram a ser interceptadas na quarta-feira (1º).

Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo após desembarcar em Milão neste sábado (4), Calabrese relatou as condições em que o grupo foi mantido e criticou a falta de ação do Brasil.

“É uma violação imensa do direito internacional que [os ativistas] continuem presos, sendo maltratados e sem a possibilidade de tomar banho, alimentar-se dignamente e sair da cela apenas para respirar ar fresco. Precisamos que o governo do Brasil, com a liderança que tem na ONU e em diversos espaços diplomáticos, tenha uma ação mais decidida para libertar todos os brasileiros e todos os tripulantes da Global Sumud Flotilha”, afirmou.

O ativista, que mora no Brasil há mais de dez anos, nasceu na Argentina e tem cidadania italiana. Sua deportação foi custeada pelo consulado da Itália em Israel, segundo a organização Adalah, que presta assistência jurídica aos detidos.

Violência e maus-tratos

Calabrese afirmou que os três dias em que passou detido foram marcados por violência e humilhações. Ele contou que os israelenses apontaram armas para o grupo e que os ativistas ficaram mais de 20 horas sem alimentação após a interceptação. “Passamos uma humilhação muito grande quando chegamos ao porto”, disse.

Segundo ele, os ativistas foram forçados a permanecer com a cabeça abaixada e eram agredidos caso mudassem de posição. “A cada vez que levantávamos a cabeça, eles abaixavam de forma violenta. Eles chutavam nossos tênis quando passavam andando entre uma pessoa e outra e arrancaram nossas pulseiras e o meu colar.”

O ativista também relatou que, desde o momento da interceptação até a chegada à prisão de Ktzi’ot, no deserto de Negev, não houve permissão para usar o banheiro.

Situação dos brasileiros detidos

Segundo Calabrese, os 13 brasileiros que ainda estão presos “não têm informações sobre quando serão libertados”.

“Eles [os detidos] ainda estão sem nenhum tipo de informação de quando vão sair, sem nenhum tipo de previsão. Isso é o mais pesado para nós que estivemos na prisão, porque não é nada agradável não saber o que vai acontecer, e Israel faz isso de forma proposital. Não sabíamos nem o lugar onde estávamos, nem que horas eram.”

Na sexta-feira (3), uma equipe do Itamaraty visitou os detidos em Ktzi’ot e informou que todos estão em bom estado de saúde. Segundo diplomatas, o governo de Binyamin Netanyahu ofereceu a possibilidade de assinar um documento para agilizar as deportações, mas oito dos 13 brasileiros recusaram.

Denúncias e resposta de Israel

A organização Adalah denunciou que os ativistas foram impedidos de falar com advogados, privados de água e medicamentos e obrigados a permanecer ajoelhados com as mãos amarradas por até cinco horas.

“A ausência de transparência sobre os processos de deportação é temerosa e uma estratégia do governo israelense para dificultar ao máximo os trabalhos da organização e dos advogados que se esforçam para acompanhar os ativistas presos ilegalmente”, declarou o grupo em comunicado.

Israel negou todas as acusações. “As acusações do Adalah são mentiras completas. Todos os detidos tiveram acesso a água, comida, banheiros e advogados, e seus direitos foram respeitados”, afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.