Enquanto São Paulo enfrenta uma crescente onda de intoxicações por metanol, relacionadas à falsificação de bebidas alcoólicas, que já afetaram 12 estados brasileiros, o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desdenhou das vítimas nesta segunda-feira (6).
Durante uma coletiva de imprensa, ele comentou o problema com uma ironia ao se referir às empresas que estão se mobilizando contra a falsificação: “No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar”.
A declaração foi feita enquanto o governador falava sobre as ações de uma força-tarefa envolvendo grandes fabricantes de bebidas alcoólicas. Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PP), a adição de etanol contaminado com metanol é a principal hipótese das investigações em andamento, conduzidas pela Polícia Civil.
Empresas de renome no setor, como Brown-Forman (Jack Daniel’s), Bacardi, Diageo (Johnnie Walker e Smirnoff), Pernod Ricard (Absolut) e Beam Suntory (Jim Beam), participaram da reunião com o governo, oferecendo apoio para combater a falsificação e treinar agentes públicos e comerciantes para identificar as bebidas adulteradas.
O governador também anunciou que, além da parceria com os fabricantes, ele pretende se reunir com representantes do setor de bares e restaurantes para fortalecer as medidas de combate à falsificação e à venda de produtos irregulares.
A crise de intoxicação por metanol teve início na última semana e, até o momento, já resultou em 225 casos confirmados ou sob investigação, conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde no domingo (5/10). São Paulo é o estado mais afetado, com 192 casos registrados, 14 confirmados e 178 ainda sob investigação. O estado também lidera o número de mortes relacionadas ao surto, com nove óbitos, dos quais quatro ocorreram na capital paulista.
O cenário de crise se agrava com a dificuldade de identificar o tamanho e as ramificações da rede de falsificações. Investigações iniciais indicam que quadrilhas especializadas podem estar envolvidas, mas há controvérsias sobre a possível participação de facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Na semana passada, o governador Tarcísio de Freitas se irritou quando perguntado sobre o assunto e descartou qualquer indício de envolvimento do PCC, embora a Polícia Federal ainda esteja apurando essa possibilidade.
O surto de intoxicações por metanol é alarmante, considerando os graves riscos à saúde que essa substância pode causar, incluindo cegueira, insuficiência renal e morte. O metanol, frequentemente utilizado em produtos industriais como solvente, é altamente tóxico quando ingerido.
A adulteração de bebidas alcoólicas com metanol é uma prática criminosa que coloca em risco a vida de consumidores desprevenidos, já que a substância pode estar presente em bebidas aparentemente inofensivas, mas com consequências fatais. A vigilância das autoridades de saúde e segurança pública é crucial para tentar conter esse surto e evitar novas tragédias.