A articulação que levou à ligação entre Lula e Trump

Atualizado em 7 de outubro de 2025 às 9:33
Donald Trump e Lula. Foto: Reprodução

Um telefonema da Embaixada dos Estados Unidos, na noite da última sexta-feira (3), foi o ponto decisivo para selar a conversa entre Lula e Donald Trump, realizada na manhã desta segunda-feira (6). O contato partiu da equipe americana, que procurou o Palácio do Planalto para sondar a possibilidade de um diálogo entre os presidentes ainda nesta semana, conforme informações da colunista Daniela Lima, do UOL.

O pedido foi recebido por um assessor direto de Lula, que imediatamente comunicou o presidente. No sábado, em São Paulo, o petista foi informado do interesse da Casa Branca e determinou que o Itamaraty desse sequência às tratativas.

Três datas foram sugeridas — segunda, terça ou quarta — e os americanos confirmaram o telefonema para as 10h da manhã de segunda-feira.

Lula então começou a se preparar para o diálogo. Pediu ao vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin que fosse informado sobre os temas e solicitou ao Ministério das Relações Exteriores o levantamento de dados técnicos para embasar a conversa, especialmente sobre tarifas e sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos.

Os bastidores da preparação

No sábado à noite, Lula foi a um show de Maria Bethânia em São Paulo, mas manteve a equipe mobilizada. Já no domingo à noite, desembarcou em Brasília e seguiu diretamente para o Palácio da Alvorada, onde se reuniu com o chanceler Mauro Vieira para um último alinhamento antes do telefonema.

Pontualmente às 10h, Trump ligou. O americano iniciou a conversa relembrando a “boa química” entre os dois durante o breve encontro que tiveram na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Ele chegou a dizer que aquele cumprimento havia sido “uma das poucas coisas boas” da reunião da ONU.

Segundo auxiliares, a conversa de 30 minutos teve momentos de descontração. Lula destacou sua boa relação com George W. Bush, também republicano, e tratou o tarifaço imposto por Washington com tom diplomático.

O presidente afirmou entender o direito dos EUA de conduzir sua política comercial, mas apresentou dados mostrando que, entre os países do G20, o Brasil é um dos três com quem os americanos têm superávit.

O petista também pediu o fim das sanções a autoridades brasileiras e sugeriu um encontro presencial — que poderia ocorrer na Malásia ou em Washington. Trump concordou e propôs que ambos trocassem números de telefone pessoais para se comunicarem diretamente, o que foi feito.

Nova fase no diálogo bilateral

Encerrada a conversa, integrantes do Itamaraty avaliaram o telefonema como um avanço diplomático. Trump não sinalizou mudanças imediatas nas tarifas ou nas sanções, mas a retomada do contato foi vista como um passo relevante na tentativa de reaproximação entre os dois países.

Um assessor resumiu a nova fase com uma metáfora esportiva: “Esse é um campeonato com dois turnos e playoffs depois. Mas agora temos um negociador escalado do lado de lá. É como se as páginas mais complicadas tivessem ficado para trás.”