
A escolha de Marco Rubio como interlocutor dos Estados Unidos nas negociações sobre o tarifaço com o Brasil foi recebida com cautela, mas também com otimismo no Itamaraty. Embora o secretário de Estado tenha histórico de ataques contra o Brasil, diplomatas acreditam que sua presença à frente das tratativas pode, paradoxalmente, favorecer o país.
Segundo a coluna de Bela Megale no jornal O Globo, a leitura é que, ao enfrentar diretamente o principal crítico da gestão Lula, a diplomacia brasileira evita sabotagens internas em Washington e garante que qualquer acordo tenha peso definitivo. Fontes do governo avaliam que a decisão de Donald Trump de colocar Rubio na linha de frente cria um canal direto com a ala mais ideológica da administração americana, neutralizando resistências.
“Com Rubio na mesa, não há o risco de ele agir em paralelo para minar as conversas”, afirmou um diplomata. O envolvimento pessoal de Trump, que foi quem propôs o contato com Lula, indica que o secretário seguirá estritamente as ordens do presidente.
Entre assessores de Lula, há a percepção de que Trump busca ganhos econômicos concretos, sem priorizar agendas ideológicas. A ausência de menções ao ex-presidente Jair Bolsonaro na ligação entre os dois líderes, na segunda (6), foi interpretada como sinal de que a Casa Branca quer resultados comerciais e não tensionamentos políticos.
Para diplomatas, Rubio é ideológico, mas subserviente a Trump. O Planalto acredita que o secretário de Estado não terá espaço para impor obstáculos às negociações, já que a orientação da Casa Branca mudou.

Um auxiliar de Lula destacou ainda que o próprio presidente e Trump trocaram contatos diretos no telefonema: “Essa troca de contatos mostra que o Rubio não vai ter como dar o tom dessa conversa. Ele e sua equipe pararam de postar coisas contra o Brasil, o que mostra certo enquadramento. É um indício de que a Casa Branca continuará conduzindo as negociações. O secretário não vai poder criar problema”, disse uma fonte ao g1.
A interlocução foi organizada sem participação do Departamento de Estado, o que reforça a centralização das decisões na Casa Branca. Segundo auxiliares do governo, a própria presidência americana acionou a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, que então procurou o Palácio do Planalto. O gesto foi visto como sinal de confiança e pragmatismo por parte de Trump.
Diplomatas lembram que Rubio mantém relação antiga com o chanceler Mauro Vieira, desde quando o brasileiro era embaixador em Washington, o que pode facilitar o diálogo. Ao mesmo tempo, o governo minimiza a influência de Eduardo Bolsonaro e do blogueiro Paulo Figueiredo sobre ele.
A mudança de postura de Trump em relação ao governo Lula é atribuída a três fatores principais: o trabalho constante da diplomacia brasileira, a pressão do setor privado americano e a percepção de que a estratégia bolsonarista de tensionar o Judiciário fracassou.
Para diplomatas brasileiros, o novo cenário indica que o governo americano pode flexibilizar gradualmente as tarifas sobre produtos brasileiros. “Eles não tem como dar um cavalo-de-pau no tarifaço, mas estão criando as condições para recuar. Pode demorar, se estender até as eleições de 2026, mas pode ser que no curto prazo já haja algum alívio”, apontou uma fonte.