
A economia dos Estados Unidos enfrenta um ponto de inflexão com a paralisação parcial do governo federal, conhecida como shutdown, que já impacta emprego e crescimento econômico. A economista Bruna Allemann, chefe de investimentos internacionais da Nomos, alertou em entrevista à Veja que o efeito sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e as projeções de inflação e juros é imediato.
“São 750 mil funcionários afastados, e o presidente americano fala até em demitir parte deles. Isso inevitavelmente tem reflexos sobre o PIB e as projeções de inflação e juros”, afirmou. Dados do mercado de trabalho, como o relatório ADP, confirmam a desaceleração, mostrando criação de vagas 32 mil abaixo do esperado no setor privado.
Segundo Bruna, embora ainda seja cedo para declarar uma recessão técnica, definida pela queda do PIB em dois trimestres consecutivos, o cenário preocupa investidores e analistas.
“O curto prazo já mostra um impacto relativo sobre o PIB. Se o shutdown se prolongar, os efeitos serão mais amplos e duradouros”, disse. A economista ressaltou que o cenário também limita as opções do governo estadunidense e do Federal Reserve (Fed), que precisa equilibrar decisões de política econômica diante do aumento do déficit público e do custo da dívida de curto prazo.

“O déficit público e o custo da dívida de curto prazo estão crescendo rapidamente. Se o corte de juros não acontecer, essa dívida se multiplica e engessa as decisões de política econômica”, explicou Allemann.
Ela destacou que a situação cria um dilema: juros elevados aumentam o custo do endividamento, mas reduzi-los cedo demais pode reacender pressões inflacionárias. O impacto sobre empresas, consumidores e mercado de crédito se torna um fator de risco adicional, pressionando decisões estratégicas do governo Trump e do Fed.
Para a economista, o desafio atual vai além da técnica e envolve uma dimensão política clara. “O Fed está sob pressão para agir, mas não é apenas uma questão técnica — há uma dimensão política clara. O que está em jogo agora é a capacidade dos Estados Unidos de administrar sua própria hegemonia sem entrar em uma espiral de dívida e recessão”, concluiu.