Como próteses 3D gratuitas estão mudando a vida de pacientes com sequelas do câncer

Atualizado em 10 de outubro de 2025 às 7:08
O método usando impressora 3D encurta o tempo de preparação da prótese. Foto: Divulgação

Tecnologia e solidariedade têm transformado a vida de pacientes que perderam parte do rosto em decorrência do câncer. Em São Paulo, o Instituto Mais Identidade desenvolve próteses faciais personalizadas produzidas com impressoras 3D, reduzindo custos e tempo de espera. As peças, que antes custavam até R$ 50 mil, agora são feitas gratuitamente para pessoas com sequelas de tumores na região da cabeça e pescoço.

O operador de máquinas Lucas Soares da Silva, de 28 anos, é um dos beneficiados. Após descobrir um tumor maligno no olho esquerdo, precisou remover o globo ocular e parte da pálpebra. O impacto emocional e o constrangimento social foram profundos.

“Eu usava um tampão para disfarçar, mas as pessoas sempre me olhavam”, conta. Sem condições de pagar por uma prótese ocular, Lucas encontrou o Instituto pela internet e recebeu gratuitamente uma peça feita sob medida. “Hoje ninguém percebe que não tenho um olho”, diz.

A tecnologia utilizada pelo Instituto permite criar próteses a partir de fotos feitas com um celular. Com auxílio de softwares de modelagem, as imagens são transformadas em modelos tridimensionais. Depois, a área afetada é reconstruída digitalmente e impressa em resina.

O molde serve de base para a confecção da prótese final, feita em silicone, com detalhes que reproduzem a textura e a cor da pele do paciente. De acordo com o cirurgião bucomaxilofacial e diretor do Instituto, Luciano Dib, em alguns casos a prótese fica pronta em apenas três dias.

“A impressão 3D encurta o processo e garante resultados personalizados. É uma forma de devolver ao paciente a possibilidade de se olhar no espelho com dignidade”, afirma. O método reduz o custo de produção em até 50% em comparação às próteses tradicionais.

Próteses faciais gratuitas transformam a vida de pessoas desfiguradas após tratamento de câncer. Foto: Divulgação

As próteses podem ser fixadas de duas maneiras: com adesivos próprios para a pele ou com pequenos magnetos ligados a pinos de titânio implantados no rosto. A escolha depende do quadro clínico. “Quando a estrutura óssea está preservada, usamos magnetos. Em casos mais delicados, a versão autocolante é a ideal”, explica Dib.

O funcionário público Emerson Aparecido da Silva, de 52 anos, também teve a vida transformada. Diagnosticado com câncer de pele, perdeu parte do nariz durante a cirurgia. “Não aceitava a perda e me isolei. Só voltei a sorrir depois que recebi minha prótese”, afirma. Como sua estrutura facial foi preservada, a peça encaixa perfeitamente e devolveu o equilíbrio estético e emocional.

O processo do Instituto Mais Identidade vai além da reconstrução física. Cada paciente passa por uma triagem e recebe acompanhamento com equipe multidisciplinar formada por dentistas, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e assistentes sociais. “O tratamento não termina quando o câncer é curado. Muitos ainda precisam de apoio para retomar a vida social”, afirma Dib.

Nos últimos dois anos, mais de cem pessoas já receberam próteses com essa tecnologia, e a fila de espera chega a 90 pacientes. Para ampliar o alcance, o Instituto busca novas parcerias com empresas privadas. Segundo o INCA, o Brasil deve registrar 48 mil novos casos de câncer na região da cabeça e pescoço em 2025, um número que reforça a importância de iniciativas que unem ciência, empatia e reintegração social.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.