
A tentativa de criar uma frente unificada entre governadores e lideranças da direita para enfrentar o governo Lula perdeu força antes mesmo de sair do papel. Lançada em agosto, a articulação prometia encontros periódicos e coordenação política, mas foi engolida por disputas internas, desconfiança do clã Bolsonaro e pela ausência de uma liderança capaz de substituir o ex-presidente em 2026.
A hesitação de Jair Bolsonaro em apontar um sucessor e as divergências entre seus aliados mais próximos minaram o movimento. Nesse período, Lula conseguiu reorganizar sua base e recuperar popularidade.
Com o Congresso mais alinhado, o presidente voltou à ofensiva, enquanto manifestações de esquerda voltaram às ruas em protestos contra a anistia a Bolsonaro e a PEC da Blindagem. O contraste enfraqueceu a narrativa de oposição unificada e deixou a direita em um cenário de fragmentação, sem coordenação nacional.
O encontro de 7 de agosto, realizado na casa do governador Ibaneis Rocha, em Brasília, simbolizou o auge e o declínio do projeto. Participaram Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Jr., todos apontados como possíveis candidatos presidenciais.
A intenção era unir partidos de centro e direita em torno de pautas comuns, mas a estratégia naufragou diante de ambições regionais e choques de vaidade. Entre os impasses, um deles teve caráter simbólico. Caiado e Ciro Nogueira trocaram ataques públicos depois que o senador do PP deixou o goiano fora da lista de presidenciáveis apoiados por Bolsonaro.
O embate expôs fissuras entre aliados que, até pouco tempo, posavam como articuladores de uma alternativa conservadora ao lulismo. Enquanto isso, a família Bolsonaro manteve resistência a qualquer nome que não fosse o do ex-presidente, hoje condenado a 27 anos e inelegível.

O próprio Tarcísio, visto como herdeiro natural de Bolsonaro, recuou de movimentações nacionais após críticas de Eduardo e Carlos Bolsonaro. Ratinho Jr. tentou ocupar o espaço vago, aproximando-se de empresários paulistas e de ex-tucanos como Andrea Matarazzo.
Já Romeu Zema, mais discreto, se mantém no jogo, avaliando disputar a Presidência mesmo sem apoio formal do bolsonarismo. Paralelamente, o cenário internacional também influenciou a perda de fôlego da direita. A aproximação entre Trump e Lula, antes improvável, reduziu a pressão sobre o governo brasileiro e desmoralizou parte da oposição.
Para aliados, a mudança de tom de Trump, que passou a elogiá-lo publicamente e buscar cooperação comercial, foi um golpe simbólico num grupo que usava o ex-presidente estadunidense como referência ideológica. O calendário de eventos e reuniões acabou se esvaziando.
Governadores que planejavam uma série de encontros passaram a priorizar agendas locais, enquanto o foco político se deslocava para temas como a anistia a golpistas, a PEC da Blindagem e a ampliação da isenção do Imposto de Renda. Em vez de união, o que prevaleceu foi a competição por visibilidade e espaço nas redes bolsonaristas.
Hoje, o bloco conservador chega às vésperas de 2026 sem coesão e sem consenso sobre um nome viável. Entre disputas por protagonismo e o declínio da influência do ex-presidente, a direita se fragmenta diante de um Lula fortalecido.