
A crise cambial na Argentina se aprofundou após o governo de Javier Milei intensificar a venda de dólares para conter a desvalorização do peso. Segundo a Bloomberg, o Tesouro argentino tem atualmente entre US$ 700 milhões (R$ 3,7 bilhões) e US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) em caixa, após sucessivas intervenções no mercado cambial.
As manobras buscam frear a disparada da moeda americana, mas comprometem as já limitadas reservas do país. Na terça (7), o governo vendeu dólares pelo sexto pregão consecutivo, injetando entre US$ 250 milhões e US$ 330 milhões (R$ 1,3 bilhão) no mercado. Em apenas seis dias, mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 8 bilhões) foi gasto para tentar estabilizar o câmbio. Apesar disso, o peso continua perdendo força.
O Banco Central da Argentina ainda conta com cerca de US$ 40 bilhões (R$ 214 bilhões) em reservas brutas, mas as reservas líquidas estão em torno de US$ 6,4 bilhões (R$ 34 bilhões), segundo o jornal Clarín. Parte desses recursos não pode ser utilizada livremente por causa do acordo com o FMI, que impõe restrições a intervenções fora da faixa cambial acordada.
As medidas adotadas por Milei, como o aperto monetário e novos controles sobre o mercado de capitais, não surtiram o efeito esperado. Mesmo com a proibição de revender dólares por 90 dias e o aumento da oferta de contratos futuros, o chamado dólar blue ultrapassou 1.500 pesos (R$ 5,60), enquanto a cotação oficial está em cerca de 1.429,5 pesos (R$ 5,33).

As projeções do mercado indicam uma desvalorização anual de até 60%, sinalizando a perda de confiança dos investidores. A pressão também se reflete nos contratos futuros e na queda dos títulos públicos, que atingiram os níveis mais baixos em meses.
A crise acontece às vésperas das eleições legislativas de 26 de outubro, consideradas decisivas para o governo Milei. O presidente tenta preservar apoio político após sofrer uma derrota expressiva em um pleito provincial em setembro. O desempenho econômico fraco e a inflação persistente têm minado a popularidade do governo.
Além disso, a Argentina precisa pagar US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) em dívidas em novembro, o que agrava o desequilíbrio fiscal. Os títulos argentinos com vencimento em 2035 caíram quase 1 centavo nesta semana, sendo negociados a cerca de 56 centavos por dólar, reflexo direto da desconfiança sobre a capacidade do país de honrar seus compromissos.