
Com a proximidade do anúncio do Prêmio Nobel da Paz de 2025, políticos noruegueses demonstravam apreensão diante de uma possível reação de Donald Trump, caso o presidente dos Estados Unidos não seja o laureado.
O Comitê Norueguês do Nobel informou que já havia decidido o vencedor na última segunda-feira, dias antes do cessar-fogo entre Israel e Hamas negociado sob o plano de paz apresentado por Trump. A composição do comitê e o cronograma da decisão levaram especialistas a considerar improvável que o norte-americano receba o prêmio, o que alimentou temores sobre sua resposta.
Kirsti Bergstø, líder do Partido da Esquerda Socialista e porta-voz de política externa, afirmou que Oslo deve “estar preparada para qualquer coisa”.
“Trump está conduzindo os Estados Unidos por um caminho extremo, atacando a liberdade de expressão e as instituições democráticas. Quando um presidente se mostra tão imprevisível e autoritário, é evidente que precisamos estar prontos para qualquer reação”, disse Bergstø ao Guardian.
Ela destacou que o comitê do Nobel atua de forma independente e que o governo norueguês não interfere na escolha dos premiados — algo que, segundo ela, “Trump talvez não compreenda”.
O ex-presidente norte-americano insiste há anos que deveria ser agraciado com o prêmio, citando o exemplo de Barack Obama, que recebeu o Nobel em 2009 por seus esforços diplomáticos. Em julho, Trump teria telefonado para Jens Stoltenberg, atual ministro das Finanças da Noruega e ex-secretário-geral da Otan, para perguntar sobre o prêmio. No mês passado, durante a Assembleia Geral da ONU, ele chegou a afirmar falsamente que havia encerrado “sete guerras sem fim”, acrescentando: “Todos dizem que eu deveria ganhar o Nobel da Paz.”

Arild Hermstad, líder do Partido Verde da Noruega, ressaltou que a independência do comitê é o que dá legitimidade à premiação. “Prêmios pela paz se conquistam com compromisso contínuo, não com surtos nas redes sociais ou intimidações. É positivo que Trump tenha apoiado o cessar-fogo entre Israel e Hamas, mas uma ação tardia não apaga anos de incentivo à violência e divisão”, declarou.
Kristian Berg Harpviken, diretor do Instituto Nobel Norueguês, confirmou que a decisão foi fechada na última reunião do comitê, reiterando que os critérios são apolíticos. Reconheceu, porém, que o fato de o Parlamento norueguês indicar os membros do comitê, conforme o testamento de Alfred Nobel, pode dar margem a interpretações equivocadas. “O comitê age de forma totalmente independente. Mas Nobel determinou que seus membros fossem nomeados pelo Parlamento, e isso não pode ser alterado”, afirmou.
O analista e colunista Harald Stanghelle avaliou que uma eventual retaliação de Trump poderia ocorrer por meio de tarifas comerciais, exigência de maiores contribuições da Noruega à Otan ou até declarações hostis. “Ele é imprevisível. Não diria que há medo, mas há um sentimento de que a situação pode se tornar difícil”, disse. “É complicado explicar a Trump — e a muitos outros líderes — que o comitê é totalmente autônomo.”
Nina Græger, diretora do Instituto de Pesquisa pela Paz de Oslo, apontou que os principais candidatos ao Nobel deste ano incluem as Salas de Resposta de Emergência do Sudão, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas e a Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade.
Segundo ela, embora Trump mereça reconhecimento pelos esforços para encerrar a guerra em Gaza, ainda é cedo para avaliar se o plano resultará em paz duradoura. “Seu afastamento das instituições internacionais, a tentativa de comprar a Groenlândia — território aliado da Otan — e as violações de direitos democráticos nos EUA não estão em sintonia com o espírito do testamento de Nobel”, afirmou Græger.
Stanghelle concluiu que, se Trump vencer, será “a maior surpresa na história do Prêmio Nobel da Paz”.