
O atual secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi quem indicou a ultraliberal venezuelana María Corina Machado ao Prêmio Nobel da Paz, ainda em 2024, quando era senador pela Flórida. À época, Rubio liderou uma carta enviada ao comitê organizador em Oslo, defendendo que a golpista fosse reconhecida por sua atuação contra o governo de Nicolás Maduro. Com informações do colunista Jamil Chade, do UOL.
A líder opositora venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2025, anunciado nesta sexta-feira (10) pelo Comitê Norueguês do Nobel, em Oslo. A cerimônia de entrega ocorrerá em 10 de dezembro, data que marca o aniversário da morte de Alfred Nobel, criador da premiação.
“Escrevemos a vocês em apoio à indicação de María Corina Machado para o Prêmio Nobel da Paz”, dizia o documento datado de 26 de agosto de 2024. O texto elogiava a atuação da ex-deputada e afirmava que ela demonstrava “coragem, altruísmo e firme convicção moral”.
“Ela arriscou tudo para animar o povo venezuelano, antes abatido. Eles sofreram 25 anos de opressão, tortura, assassinato e privação econômica nas mãos do regime Chávez-Maduro, que sistematicamente minou as instituições democráticas e perpetuou uma crise regional de proporções monumentais. Machado se destaca como um farol de esperança e resiliência”, afirmava o texto.
A carta também exaltava a “liderança fundamental” de Machado na mobilização de apoio interno e internacional: “Apesar de sofrer severas ameaças pessoais, incluindo atentados contra sua vida, Machado permaneceu firme em seu compromisso de restaurar a governança democrática na Venezuela”.

De defensor de Machado a chefe da diplomacia de Trump
O mesmo Rubio que defendeu Machado é hoje o chefe da diplomacia de Donald Trump, presidente que fez campanha explícita para receber o próprio Nobel da Paz. A Casa Branca chegou a acionar a diplomacia americana para apoiar essa iniciativa, sem sucesso.
Rubio foi nomeado secretário de Estado por Trump no segundo mandato do republicano. Antes disso, sua campanha pela venezuelana foi vista como uma estratégia política para aumentar a pressão internacional sobre Maduro, então alvo de sanções dos Estados Unidos.
O histórico de María Corina Machado
María Corina Machado, inabilitada de exercer cargos públicos por 15 anos pela Justiça venezuelana, foi acusada de “inconsistência e ocultação” de ativos na declaração de bens apresentada à Controladoria-Geral da República. A pena foi divulgada em junho de 2023, após um processo iniciado em 2015.
Apesar de protagonizar a campanha opositora das eleições de 2024, a história política de María Corina Machado não começou nos últimos meses. A ex-deputada atua politicamente no país há décadas e já se envolveu em golpes de Estado, pedidos de sanções e apoios à intervenção armada estrangeira.
O prêmio que Trump sonhou, mas não ganhou
Enquanto Rubio articulava pela venezuelana, Trump mobilizava aliados em busca do mesmo reconhecimento internacional.
O republicano manifestou diversas vezes seu desejo de receber o Nobel, prêmio que já foi concedido a quatro ex-presidentes americanos — Barack Obama (2009), Jimmy Carter (2002), Woodrow Wilson (1919) e Theodore Roosevelt (1906).
A escolha do comitê de Oslo, porém, foi em outra direção, frustrando a expectativa da Casa Branca e tornando irônico o fato de que o novo secretário de Estado de Trump tenha sido, até pouco tempo antes, um dos principais promotores da campanha de uma líder estrangeira para o prêmio que o chefe tanto desejava.