Empresário ligado ao PCC usou Faria Lima para ocultar R$ 57 milhões em imóveis

Atualizado em 10 de outubro de 2025 às 11:37
Mohamad Hussein Mourad, conhecido como “Primo” ou “João”, é apontado como pivô do esquema do PCC. Foto: Reprodução

Um relatório da Receita Federal aponta que Mohamad Hussein Mourad, conhecido como Primo e suspeito de coordenar um esquema de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), ocultou R$ 57 milhões em imóveis por meio de fundos administrados por gestoras da Faria Lima, em São Paulo, conforme informações da colunista Natália Portinari, do UOL.

Segundo a investigação, os bens foram registrados no Fundo de Investimento Imobiliário Los Angeles, administrado entre 2021 e 2024 pela Reag, também investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF). O caso embasou a Operação Carbono Oculto, deflagrada no fim de agosto.

R$ 57 milhões em imóveis ocultados

De acordo com a Receita, 22 imóveis — incluindo casas de luxo, galpões, postos e motéis — foram transferidos, no papel, de uma empresa em nome da esposa de Mourad, Silvana Corrêa, para o fundo Los Angeles. As vendas, feitas entre julho e agosto de 2022, ocorreram enquanto o casal enfrentava processos milionários de fiscalização tributária.

Entre os bens de maior valor estão um galpão em Osasco, avaliado em R$ 12,4 milhões, e um motel na rodovia Fernão Dias, com valor fiscal de R$ 12,2 milhões. O relatório do fisco indica que o objetivo era “blindar o patrimônio do casal e frustrar futuras execuções fiscais, ocultando seus bens utilizando fundos de investimento”.

Galpão em Osasco do fundo imobiliário Los Angeles que, segundo a Receita Federal, servia para ocultar patrimônio
Galpão em Osasco do fundo imobiliário Los Angeles que, segundo a Receita Federal, servia para ocultar patrimônio. Foto: Google Maps

A Receita apurou que, em 2022, Mourad e Silvana foram multados em R$ 563 milhões por sonegação em oito postos de combustíveis controlados por laranjas. Ambos são alvos de mandados de prisão e estão foragidos desde o início da operação.

Fundos usados como “camadas de ocultação”

O fundo Los Angeles, segundo a Receita, não tinha finalidade de investimento real, mas sim de esconder patrimônio ligado ao PCC. Os rendimentos eram transferidos para uma conta do BK Bank, também investigado, que misturava repasses sem identificar seus beneficiários.

O relatório descreve duas “camadas de ocultação” para disfarçar o verdadeiro dono dos imóveis. As propriedades saíram da empresa de Silvana e foram transferidas ao fundo Los Angeles, cujo principal cotista era outro fundo, o Derby 44, administrado pelo primo de Mohamad, Himad Abdallah Mourad.

“O Derby 44 é basicamente um fundo de investimento para ocultar os reais proprietários do Los Angeles, uma vez que 97,53% de seu patrimônio é composto de cotas do Los Angeles. Trata-se apenas de uma segunda camada de ocultação do patrimônio de Mohamad”, diz o documento.

Himad é sócio ou administrador de 57 empresas, incluindo mais de 30 postos de combustíveis em São Paulo, que movimentaram R$ 638 milhões, mas pagaram apenas R$ 25 mil em impostos, segundo o fisco.

Casa de alto padrão na zona norte de São Paulo (SP) controlada pelo fundo imobiliário Los Angeles
Casa de alto padrão na zona norte de São Paulo (SP) controlada pelo fundo imobiliário Los Angeles. Foto: Google Maps

Gestoras e banco sob suspeita

Além da Reag, a Receita também aponta a participação da Banvox, que assumiu o fundo em 2024, nas manobras para fraudar o fisco. A Banvox afirmou ter renunciado à administração do fundo Los Angeles em 29 de agosto e disse que, durante sua gestão, nenhuma operação foi realizada.

A Reag informou que transferiu o fundo para outros administradores em outubro de 2024. Após ser citada nas investigações, a empresa anunciou o cancelamento de seu registro na B3 e uma reestruturação interna.

As práticas do BK Bank, que mantinha uma “conta bolsão” para mesclar transações financeiras, também foram alvo da operação. Após o caso, a utilização desse tipo de conta em fintechs foi proibida.

A Receita concluiu que “a gestão temerária das administradoras de recursos pode trazer risco a investimentos lícitos e de boa-fé pela contaminação com o crime organizado”.

A defesa de Mohamad Mourad negou as acusações e afirmou que ele “nega veementemente a prática de crimes de qualquer natureza, e menos ainda que tenha havido manobras fiscais para ocultar patrimônio”.