Fome recua no Brasil: 2,2 milhões de lares saem da insegurança alimentar

Atualizado em 10 de outubro de 2025 às 13:29
Pessoa em situação de fome. Foto: Gabriel Moreira/UOL

Mais de dois milhões de lares brasileiros saíram da insegurança alimentar em 2024, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta (10). O número de domicílios com algum grau de restrição de acesso à comida caiu de 21,1 milhões em 2023 para 18,9 milhões neste ano, uma redução de 2,2 milhões de lares.

Em termos proporcionais, a taxa recuou de 27,6% para 24,2%, o que significa que quase um em cada quatro lares ainda enfrenta dificuldades para garantir alimentação adequada. O estudo, feito em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, mostra também que a proporção de domicílios em segurança alimentar subiu de 72,4% para 75,8%.

Entre os três níveis de insegurança, todos registraram queda: a leve passou de 18,2% para 16,4%; a moderada, de 5,3% para 4,5%; e a grave, de 4,1% para 3,2%. Essa última categoria ainda afeta 2,5 milhões de famílias em situação de fome, atingindo adultos e crianças.

Foto: Reprodução/IBGE

As regiões Norte e Nordeste seguem como as mais afetadas. O Norte teve 37,7% dos domicílios em insegurança alimentar e o Nordeste, 34,8%. Os índices mais graves foram registrados no Amapá (9,3%), Amazonas (7,2%) e Pará (7,0%).

Já as menores taxas estão em Santa Catarina (9,4%), Espírito Santo (13,5%) e Rio Grande do Sul (14,8%). A analista do IBGE Maria Lucia Vieira explicou que “em termos absolutos, Nordeste e Sudeste concentram o maior número de famílias afetadas, mas proporcionalmente a situação é mais crítica no Norte e Nordeste”.

Foto: Reprodução/IBGE

A pesquisa também revelou desigualdades sociais e raciais. Mulheres são responsáveis por 59,9% dos lares em insegurança alimentar, contra 40,1% dos homens. A diferença é ainda maior no nível moderado, em que 61,9% dos domicílios têm mulheres à frente.

Em relação à cor, 54,7% dos lares em insegurança alimentar são chefiados por pessoas pardas, 15,7% por pretas e 28,5% por brancas. Nos casos mais graves, a proporção de responsáveis pardos sobe para 56,9%.

O nível de instrução também influencia. Mais da metade dos responsáveis por lares em insegurança alimentar (51,5%) têm apenas o ensino fundamental completo, percentual que chega a 65,7% entre os casos graves. Em contraste, 64,9% dos domicílios em segurança alimentar são chefiados por pessoas com, pelo menos, ensino médio incompleto.

Segundo Maria Lucia, “quanto menor a escolaridade, maiores as chances de restrição alimentar e menor a renda per capita”.

Nas áreas rurais, 31,3% dos domicílios estão em insegurança alimentar, contra 23,2% nas cidades. A situação mais grave atinge 4,6% das famílias rurais, quase o dobro do índice urbano (3%). A pesquisadora do IBGE destacou que “a ideia de que no campo há mais comida disponível nem sempre se confirma, pois a renda é menor e o acesso a alimentos variados é limitado”.

A renda foi o fator mais determinante: dois em cada três lares com até um salário mínimo per capita estão em insegurança alimentar. As faixas de renda até um quarto, meio e um salário mínimo concentram 66,1% de todos os casos no país. Na zona rural, esse percentual é ainda maior — 82,2% dos domicílios em insegurança alimentar moderada ou grave estão nessas três faixas.

Foto: Reprodução/IBGE

Com a redução dos indicadores, o Brasil voltou a apresentar dados próximos aos de 2013, quando o país atingiu o menor nível de insegurança alimentar já registrado, com 22,6% dos domicílios nessa condição. Ainda assim, os números reforçam que a fome continua concentrada nas regiões e entre os grupos historicamente mais vulneráveis.

A analista do IBGE destacou que “as melhorias recentes indicam recuperação, mas a insegurança alimentar ainda é realidade para milhões de famílias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste e entre mulheres e pessoas negras”.

Os resultados fazem parte do módulo Segurança Alimentar da PNAD Contínua, que o IBGE realiza periodicamente desde 2004. A nova edição traça um panorama atualizado sobre o acesso à alimentação no país e serve de base para políticas públicas de combate à fome e à desigualdade social.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.