
O presidente Lula afirmou a Donald Trump, durante conversa por telefone na segunda (6), que qualquer solução para a crise política na Venezuela deve ocorrer por meios pacíficos e diplomáticos. Fontes que acompanharam o diálogo relatam que o petista defende a via do diálogo e que ele e o republicano poderiam tratar do tema em um momento oportuno, dentro de um contexto multilateral.
Segundo a Folha de S.Paulo, o presidente brasileiro, durante a ligação, também mencionou que seu governo cobrou de Nicolás Maduro a divulgação das atas eleitorais das eleições de 2024, que nunca foram apresentadas.
Lula também relatou que não mantém contato com Maduro desde o pleito, que foi denunciado por fraudes. A Venezuela voltou ao centro das atenções internacionais após a golpista María Corina Machado ser premiada com o Nobel da Paz, prêmio que o próprio Trump desejava conquistar.
A conversa entre os dois presidentes durou cerca de 30 minutos. Além da questão venezuelana, Lula pediu o fim do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e a suspensão de sanções aplicadas a autoridades brasileiras sob a Lei Magnitsky. O petista evitou mencionar diretamente o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, alvo das medidas.
Antes da ligação, o tema já havia sido discutido entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o enviado especial de Trump, Richard Grenell, em encontro realizado no Rio de Janeiro. Grenell apresentou relatórios sobre a situação em Caracas e sobre o aumento da presença militar americana na costa venezuelana.

A crise se agravou após os Estados Unidos classificarem cartéis venezuelanos como organizações terroristas e deslocarem navios de guerra para o Caribe. Nas últimas semanas, quatro embarcações foram atacadas por forças americanas sob a alegação de combate ao narcotráfico, enquanto Caracas acusa Washington de usar o pretexto das drogas para tentar derrubar Maduro e se apoderar das reservas de petróleo do país.
O governo brasileiro vê com preocupação a escalada militar e reforça sua posição contrária a intervenções unilaterais. Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, Lula defendeu que o diálogo é a única forma legítima de enfrentar a crise venezuelana e criticou o uso de força letal fora de situações de conflito armado, afirmando que tais ações “equivalem a execuções sem julgamento”.
O governo Trump, por outro lado, pretende incluir a Venezuela nas conversas bilaterais com o Brasil. Na quinta (9), o secretário de Estado Marco Rubio conversou com Mauro Vieira e anunciou a criação de um “mecanismo bilateral” para tratar de interesses econômicos e regionais, incluindo a crise venezuelana.
Fontes do Itamaraty confirmam que o Brasil não se opõe a discutir o tema com Washington, desde que o diálogo respeite os limites do direito internacional e não sirva de pretexto para ações militares. A diplomacia brasileira pretende manter sua atuação voltada à mediação e à estabilidade da América do Sul.