
A confiança pessoal do presidente Lula (PT) no advogado-geral da União, Jorge Messias, tornou-se o principal trunfo do aliado na disputa pela vaga que será aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, conforme informações do Globo.
O nome de Messias ganhou força no Planalto, enquanto o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) desponta como o favorito do Senado e de uma ala influente da Corte.
Messias e o fator confiança
No entorno de Lula, a avaliação é que Messias larga na frente por causa da relação direta e antiga com o presidente, que pretende manter no Supremo um perfil de lealdade e alinhamento. Essa confiança tem sido o principal critério do petista nas nomeações para a Corte desde o início do terceiro mandato — o mesmo que guiou as escolhas de Cristiano Zanin, em 2023, e Flávio Dino, em 2024.
Aliados afirmam que Lula quer evitar o que considera erros do passado, quando indicados seus, como Joaquim Barbosa, acabaram contrariando os interesses do PT, a exemplo do voto pela condenação de dirigentes do partido no julgamento do mensalão.
Messias também conta com apoio interno no governo. É visto com simpatia por ministros como Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad, além de contar com o endosso do grupo Prerrogativas, que reúne advogados próximos a Lula. Ex-chefe de gabinete de Jaques Wagner (PT-BA), hoje líder do governo no Senado, ele mantém trânsito político e perfil técnico, reconhecido por ministros do STF como um defensor firme da democracia e da Corte.
O advogado-geral é ainda um dos poucos interlocutores do governo com o segmento evangélico, representando o Planalto em eventos como a Marcha para Jesus. O vínculo religioso é visto como um ponto positivo em um campo em que Lula enfrenta resistência.

Pacheco, o favorito do Senado
Apesar da confiança de Lula em Messias, o presidente sabe que a aprovação no Senado é o maior desafio. Rodrigo Pacheco, presidente da Casa até o início do ano, é o preferido dos senadores e conta com o apoio direto de Davi Alcolumbre (União-AP), seu aliado e atual comandante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) — colegiado responsável por sabatinar o indicado ao STF.
Na Corte, Pacheco também tem padrinhos de peso. Gilmar Mendes já declarou publicamente apoio, elogiando sua “coragem e preparo jurídico”. Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia também são citados entre os que veem sua indicação com bons olhos.
Sua trajetória como presidente do Senado, marcada por momentos de estabilidade institucional, e o fato de ter rejeitado pedidos de impeachment contra ministros do STF durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) reforçam sua imagem de moderação e respeito aos poderes.
Por outro lado, a possível candidatura de Pacheco ao governo de Minas Gerais em 2026 pesa contra sua nomeação. Lula o vê como nome estratégico para disputar o estado, considerado crucial para o desempenho eleitoral do PT nas próximas eleições.
Dantas corre por fora
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, é apontado como uma alternativa de consenso. Não é o favorito de nenhum grupo específico, mas tem boa articulação nos três Poderes e relações sólidas com ministros do STF. Sua postura crítica à Lava Jato e o perfil garantista agradam setores do governo e do Judiciário.
Dantas mantém ainda apoio de políticos como Renan Calheiros (MDB-AL) e Davi Alcolumbre, o que garantiria uma tramitação tranquila no Senado. Mesmo assim, enfrenta resistência em parte do PT, que o vê como um nome “distante da esquerda” e sem laços diretos com Lula.
Lula evita pressa na decisão
Embora as pressões aumentem, Lula deve adiar a escolha. O presidente costuma levar semanas para definir seus indicados — foram três meses para Zanin e dois para Dino. No Planalto, a percepção é de que, entre a confiança pessoal em Messias e o apoio político a Pacheco, Lula ainda pesa o custo político de cada opção.
Como resumiu um ministro do STF, “nas duas hipóteses, o presidente tem ganhos”. A dúvida é se Lula privilegiará a lealdade de dentro do governo ou a articulação política no Senado.