
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a abordar com mais frequência o combate a diferentes formas de criminalidade, em sintonia com operações de grande porte da Polícia Federal. Em seus discursos recentes, o petista citou ações contra o PCC e a exploração sexual infantil, temas que ganharam repercussão nacional. A mudança representa uma tentativa do governo de ocupar o espaço da segurança pública, tradicionalmente dominado por pautas da direita. Com informações de O Globo.
Na quarta-feira (8), a PF deflagrou uma operação em 16 estados contra a exploração sexual infantil. Lula comentou a ação e usou tom mais incisivo: “O que não falta é gente safada nesse país para fazer coisa errada. Essa gente tem que ir para a cadeia” — afirmou. Em agosto, o presidente já havia classificado a ofensiva contra o PCC como “a maior resposta do Estado ao crime organizado de nossa história até aqui”.
O tema da segurança aparece como principal preocupação dos brasileiros, segundo pesquisa Genial/Quaest da semana passada. O levantamento indica que 31% dos entrevistados consideram a violência o maior problema do país, índice que chega a 36% entre eleitores lulistas. Em 2021, no mesmo período do governo Bolsonaro, apenas 2% apontavam a criminalidade como o principal problema nacional.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, também tem tido presença constante após as operações. A Receita Federal, subordinada à Fazenda, criou inclusive uma delegacia especializada no combate ao crime, ampliando a coordenação entre ministérios. A atuação conjunta reforça a tentativa do governo de centralizar o protagonismo sobre o tema.

Nos bastidores, aliados afirmam que Lula quer demonstrar controle e ação diante da escalada de violência, ajustando o discurso a uma demanda da população. O cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, avaliou que o PT passa a lidar com uma área historicamente difícil para a esquerda, mas com respostas concretas de política pública.
A guinada gerou atritos com o governo de São Paulo. Em agosto, durante a operação contra a lavagem de dinheiro do PCC, o Palácio do Planalto e a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) realizaram coletivas simultâneas e disputaram o mérito da ação. Mais recentemente, a PF levantou possível envolvimento da facção no caso das bebidas adulteradas com metanol, o que foi descartado pelo governo paulista.
São Paulo também recusou o apoio da Polícia Federal na investigação da morte do delegado Ruy Ferraz, em Praia Grande. A divergência acentuou o embate político entre Lula e Tarcísio, apontado como potencial adversário na disputa presidencial de 2026.
Nos últimos meses, Lula também endureceu o discurso contra medidas que beneficiariam a classe política, vetando alterações na Lei da Ficha Limpa e rejeitando a ampliação do número de deputados. A estratégia busca marcar uma diferença de postura em relação à era Bolsonaro e reforçar o foco do governo em temas de impacto social — como segurança e combate à corrupção.