
Militares do Exército realizaram obras de terraplenagem para auxiliar na montagem do acampamento golpista instalado em frente ao quartel-general em Brasília, no fim de 2022, logo após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições.
Vídeos obtidos pelo Estadão mostram o uso de máquinas operadas por militares para nivelar o terreno onde estavam instaladas as barracas de manifestantes.
As imagens, registradas em 18 de novembro de 2022, mostram uma retroescavadeira e um caminhão sendo conduzidos por militares que coordenavam o trabalho de remoção da lama e nivelamento do solo. O local estava tomado por barracas e faixas com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao processo eleitoral.
Procurado, o Exército afirmou que o uso do maquinário teve como objetivo a “manutenção do local” e a correção do acúmulo de lama. No entanto, o material obtido indica que os militares tiveram participação ativa na estruturação do acampamento.
Vídeos entregues à PGR e à PF
Os vídeos foram gravados pelo blogueiro Wellington Macedo, preso por ordem do STF por envolvimento na tentativa de atentado a bomba em Brasília, em dezembro de 2022. O material foi entregue por seu advogado, Sildilon do Nascimento, à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Polícia Federal (PF), como parte de uma proposta de colaboração premiada.
A defesa de Wellington nega qualquer envolvimento dele com o episódio da bomba e afirma que ele não conhecia os responsáveis pela ação. Após analisar o material, a equipe do procurador-geral Paulo Gonet informou, em abril de 2023, que não tinha interesse em prosseguir com o acordo.

Atuação do Exército
A denúncia da PGR afirma que Bolsonaro incentivou a manutenção do acampamento em frente ao quartel-general como forma de obter apoio popular para a tentativa de golpe. Até então, porém, não havia provas diretas da participação de militares na montagem da estrutura.
As investigações apontam que, dias antes da terraplenagem, os comandantes das Forças Armadas divulgaram uma carta pública, em 11 de novembro de 2022, classificando as manifestações nas unidades militares como “não criminosas”, o que acabou sendo interpretado como um sinal de tolerância e apoio ao acampamento.
Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército confirmou a atuação no local e justificou que o Setor Militar Urbano (SMU), onde ocorreu o episódio, é uma área sob jurisdição militar e recebe manutenção regular.
“O uso de maquinário de engenharia se fez necessário para a manutenção do local, tendo em vista o acúmulo de lama e o desnível que se apresentava no terreno”, afirmou o Exército.
Na época, o comandante do Exército era o general Freire Gomes, que também assinou o documento “Às instituições e ao povo brasileiro”, junto com os chefes das outras Forças.
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, Freire Gomes admitiu ter sido consultado por Bolsonaro sobre um decreto de teor golpista, mas afirmou que rejeitou a proposta. Poucos dias depois da publicação dessa carta, as máquinas do Exército apareceram nos vídeos fazendo a terraplenagem no acampamento.
Apesar das imagens, o general Freire Gomes não foi acusado de envolvimento na trama golpista. A PGR considerou a “resistência” do militar fundamental para evitar a concretização do golpe.
Assista abaixo: