Quem são os palestinos libertados por Israel

Atualizado em 13 de outubro de 2025 às 15:24
Prisioneiros palestinos são recebidos após serem libertados de uma prisão israelense. Foto: Mahmoud Illean/AP

Israel começou a libertar cerca de 2 mil palestinos, entre prisioneiros políticos e pessoas detidas sem acusação formal, como parte do acordo de cessar-fogo que também prevê a devolução de reféns israelenses vivos e mortos. O acordo encerra, ao menos temporariamente, uma guerra de dois anos em Gaza.

Na segunda-feira, milhares de palestinos se reuniram em Ramallah para esperar a chegada dos libertados — entre eles 96 prisioneiros políticos e a maioria dos detidos em Gaza durante o conflito. A cena se repetiu em várias cidades, com famílias e organizações civis acompanhando a troca que envolve 20 reféns israelenses vivos, 28 corpos e quase 2 mil palestinos presos.

O Hamas havia capturado mais de 200 israelenses durante o ataque de 7 de outubro de 2023. Em duas trocas anteriores, realizadas em novembro de 2023 e janeiro de 2025, 114 israelenses foram libertados em troca de 1.240 palestinos. Mas as tréguas foram seguidas por novas prisões em massa, em que Israel deteve centenas de palestinos na Cisjordânia e em Gaza, em muitos casos sem processo judicial.

Quem está sendo libertado

Dos prisioneiros libertados agora, 250 cumprem penas longas ou prisão perpétua. Dados obtidos pela Al Jazeera mostram que todos, com exceção de nove, são da Cisjordânia.

Entre eles:

•157 pertencem ao Fatah, partido que comanda a Autoridade Palestina;

•65 são do Hamas;

•os demais integram facções menores, como a Jihad Islâmica e a Frente Popular para a Libertação da Palestina.

Além desse grupo, 1.718 palestinos desaparecidos durante a ofensiva israelense contra Gaza foram libertados. Segundo a ONU, eles haviam sido levados para campos militares e centros de detenção onde, conforme denúncias de organizações palestinas e israelenses de direitos humanos, houve tortura, espancamentos, privação de comida, negligência médica e casos de violência sexual.

Entre os libertados estão cinco menores de idade e duas mulheres.

O Clube dos Prisioneiros Palestinos afirma que 77 pessoas morreram sob custódia israelense desde outubro de 2023, muitas por falta de atendimento médico.

Quem continua preso

Palestino abraça familiares ao ser recebido na Cisjordânia. Foto: Mahmoud Illean/AP

Apesar da libertação, milhares de palestinos continuam nas prisões israelenses.

A organização Addameer calcula que o número de prisioneiros palestinos passou de 5.200 antes da guerra para 11.100 em outubro de 2025.

A maior parte é da Cisjordânia ocupada, e cerca de 400 são crianças.

Murad Jadallah, pesquisador da entidade de direitos humanos Al-Haq, afirma que as prisões em massa, especialmente de menores, são parte de uma política que busca enfraquecer a sociedade palestina. “Israel tenta desestruturar as famílias e as comunidades prendendo jovens, militantes e até pessoas sem envolvimento político”, disse ele à Al Jazeera.

Possibilidade de novas prisões

Especialistas alertam que os libertados podem ser detidos novamente.

Tahani Mustafa, do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), lembrou que Israel costuma recapturar palestinos libertados em trocas de prisioneiros.

Em novembro de 2023, após a libertação de 240 palestinos em troca de reféns israelenses, 30 foram presos novamente poucas semanas depois.

“Israel usa a prisão como instrumento político e, em alguns casos, como moeda de troca em negociações futuras”, afirmou Mustafa.

Ela acrescentou que não há garantia de que os atuais libertados permanecerão em liberdade.

Deportações e destinos incertos

Primeiro ônibus com prisioneiros palestinos chega a Ramallah. Foto: Hazem Bader/AFP

Dos 250 prisioneiros políticos incluídos no acordo, 96 retornaram à Cisjordânia e a Gaza, enquanto 154 foram deportados para o Egito, que servirá apenas como ponto de passagem. O destino final ainda não foi divulgado.

A agência oficial palestina WAFA informou que Israel pode adiar as últimas liberações até que receba os corpos dos 28 reféns israelenses mortos, cuja devolução deve ocorrer nos próximos três dias.

O Hamas afirmou que está tentando localizar todos os corpos, mas que parte deles pode estar sob escombros em áreas fortemente bombardeadas.

Em Khan Younis, centenas de pessoas se reuniram para receber os libertados vindos de Gaza — entre eles, civis, médicos e trabalhadores humanitários que haviam desaparecido durante a guerra.

Celebrações proibidas e famílias sob vigilância

Apesar da alegria, as famílias foram advertidas a não comemorar. Israel proibiu atos públicos de celebração, bandeiras palestinas e manifestações em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia ocupada.

As famílias dos deportados tampouco podem viajar para reencontrar seus parentes no exterior, o que transforma a libertação em um novo tipo de separação.

Segundo Jadallah, da Al-Haq, muitos palestinos veem o acordo como uma pausa temporária e não como o fim do sofrimento. “As pessoas desejam que essa troca seja o início do fim da guerra em Gaza, mas sabem que o ciclo de prisões e violência pode recomeçar a qualquer momento”, afirmou.

Nomes que continuam presos

Marwan Barghouti retornando para a prisão após comparecer perante um tribunal de Tel Aviv. Foto: Tal Cohen/AFP

A libertação não incluiu líderes políticos de destaque, como Marwan Barghouti, do Fatah, e Ahmed Saadat, secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina.

Ambos são considerados símbolos da resistência palestina e há anos figuram nas negociações de trocas de prisioneiros.

Outro nome ausente é o do médico Hussam Abu Safia, diretor do Hospital Kamel Adwan, no norte de Gaza, sequestrado em dezembro de 2024.

Relatórios de organizações humanitárias apontam que ele foi submetido a tortura e confinamento solitário, e seu caso é acompanhado por entidades médicas internacionais.

Mesmo com a libertação em andamento, a sensação predominante entre os palestinos é de incerteza.

Enquanto famílias tentam localizar parentes desaparecidos e presos buscam tratamento médico após anos de maus-tratos, a ocupação militar e as restrições impostas por Israel continuam marcando a vida cotidiana na Cisjordânia e em Gaza.

Ahmed Saadat é levado pela polícia de fronteira israelense ao tribunal militar de Ofer, na Cisjordânia ocupada. Foto: AFP/Menahem Kahana)