Sakamoto: PCC é ‘Fonte do Veneno’ nas bebidas, mas governo Tarcísio desconversa

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 9:22
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas – Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

A Polícia Civil de São Paulo realiza hoje a Operação Poison Source (Fonte do Veneno) para atacar a cadeia produtiva das bebidas falsificadas. Enquanto isso, o governo Tarcísio de Freitas continua fazendo um contorcionismo verbal para manter o PCC de fora dessa cadeia produtiva, apesar de a facção ser uma das fontes do veneno, ou seja, do metanol que matou, cegou e hospitalizou.

A ação de hoje, realizada em oito municípios, visa a apreender produtos, maquinários e insumos usados na produção de bebidas falsificadas. A polícia está fazendo sua parte, mas a política está fazendo a egípcia.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou em setembro que estava em curso a investigação sobre a ligação do PCC com as bebidas adulteradas através da importação de metanol pelo porto de Paranaguá. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) havia levantado a suspeita de que o produto tóxico usado na adulteração de bebidas era o mesmo importado ilegalmente para batizar combustíveis.

Até porque, convenhamos: o falsificador de bebida sabe que se começar a envenenar seus clientes vai mais facilmente para o xilindró ou perde mercado porque o comprador morreu.

Não é que o governo estadual não queira apenas dar o braço a torcer para o governo Lula. Ele também quer evitar o ônus que o envolvimento do PCC nas bebidas adulteradas trará para Tarcísio, pré-candidato à Presidência da República. Reforçaria a impressão de que a facção já controla várias dimensões da vida cotidiana em São Paulo, de fundos de investimento na Faria Lima, passando pelos bares e restaurantes até os postos de gasolina – isso sem contar bairros e portos.

O governo Tarcísio vinha negando envolvimento do PCC até que a própria Polícia Civil fechou, na última sexta (10), uma fábrica clandestina suspeita de produzir bebidas adulteradas com metanol em São Bernardo do Campo (SP).

O que chamou a atenção é que os criminosos compraram etanol de um posto para colocar nas bebidas sem saber que o combustível já estaria adulterado com metanol. A facção tem usado esses postos para a lavagem de dinheiro.

O próprio secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, reconheceu a conexão em coletiva à imprensa. Mas fez um contorcionismo para tentar convencer de que não existe participação do PCC no caso das bebidas porque nem a organização, nem os adulteradores sabiam da atuação um do outro.

“O que aconteceu, que nós estamos concluindo, é que criminosos foram prejudicados por uma organização criminosa”, afirmou o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. Ou seja, o PCC está prejudicando o falsificador honesto.

O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite – Foto: Reprodução

Mas a relação é clara: o PCC é a Fonte do Veneno. Ou a Poison Source, para ficar bonito em inglês. Ele não precisa fazer parte do esquema de falsificação de bebidas para ter envolvimento no que aconteceu. Se os postos de combustível não estivessem sendo usados como lavandeira do crime organizado, as mortes e as intoxicações talvez nem tivessem acontecido.

Como já disse aqui, dois crimes terem sido cometidos paralelamente e se encontrado é sinal de que organizações criminosas estão tão imbricadas em São Paulo que nem a polícia, nem elas mesmas sabem em que momento começa a atuação de uma e termina a de outra.

O caso não é apenas sobre bebidas envenenadas, mas sobre o corpo social no Estado, intoxicado por estruturas paralelas de poder que corrompem tudo, do combustível à bebida, demonstrando que a fronteira entre o legal e o ilegal está tão borrada que até os próprios criminosos já não conseguem mapear os perigos que criam.

Quando a política nega isso está adulterando a realidade. E pode deixar sequelas para a vida em sociedade.