Ex-franqueados da “Cresci e Perdi” denunciam humilhações, apelidos e ameaças

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 13:45
Unidade da Cresci e Perdi em Santa Catarina. Foto: Divulgação

Ex-franqueados da rede de brechós infantis Cresci e Perdi afirmam que eram expostos e humilhados publicamente em canais internos da marca por Elaine Alves, fundadora e ex-CEO, e por Saulo Alves, atual presidente do grupo. Segundo relatos, a empresária chegou a criar um perfil chamado “Mural da Feiura” para criticar lojas consideradas mal administradas.

Segundo a Folha de S.Paulo, as publicações incluíam a localização das unidades, o que permitia a identificação dos responsáveis. Mensagens semelhantes continuaram sendo compartilhadas por Saulo Alves em grupos de WhatsApp, com conteúdos que comparavam faturamentos e ridicularizavam franqueados.

Vários ex-associados disseram viver um “clima de medo e desconfiança”, e relataram que qualquer tentativa de questionar a direção era vista como “deslealdade”. Em agosto, um vídeo da ex-CEO viralizou nas redes. Nele, Elaine afirmava ter “vontade de dar na cara” de franqueados que não seguiam as orientações da marca.

“Eu queria fazer a CEO zen que vai trabalhar e falar eu amo meu trabalho. Mas não dá, velho… dá vontade de dar na cara”, dizia. Relembre:

O investimento inicial para abrir uma unidade da rede varia entre R$ 275 mil e R$ 495 mil, conforme o tamanho da loja e o município. Procurada, a Cresci e Perdi informou que sua estrutura de comunicação com os franqueados foi reformulada.

“Antigos canais de relacionamento foram descontinuados, e o suporte à rede passou a seguir um modelo padronizado, sem contato direto entre franqueados e a direção”, afirmou a empresa. A marca diz que divergências contratuais são tratadas apenas na Justiça e acusa ex-franqueados de difamação após criarem uma operação concorrente.

Ex-integrantes da rede relatam ainda que, nos grupos internos, havia apelidos pejorativos e comparações de faturamento entre lojas, sem consentimento. Uma das franqueadas chegou a ser chamada de “bomboniere” por vender doces e chocolates, o que contraria o contrato da marca. “Era um constrangimento público. Quem tentava dialogar acabava marcado”, contou uma ex-lojista.

Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo

Outros relatos indicam que o controle da franqueadora sobre as redes sociais das lojas era constante, com ameaças de bloqueio de perfis e remoção de conteúdos. Mensagens internas advertiam que “franqueados poderiam acordar sem redes sociais”, o que gerava apreensão entre os lojistas, já que muitos dependiam das plataformas digitais para vender e atrair clientes.

Os conflitos, segundo ex-franqueados, se intensificavam quando havia queda nas vendas. Eles afirmam que a direção culpava exclusivamente os lojistas, dizendo que “não serviam para o negócio”. Alguns relataram perda de peso, crises de ansiedade e a necessidade de tratamento psicológico após os episódios de exposição e assédio moral.

Fundada em 2014, a Cresci e Perdi afirma ter 566 franquias em operação e outras 94 em fase de implementação em todo o país. A empresa inaugurou sua primeira loja internacional em outubro, em Assunção, no Paraguai, e diz manter “padrões de gestão e transparência” em todas as unidades.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.