Terra ficará “inabitável” ainda neste século, diz Carlos Nobre

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 16:50
Carlos Nobre em entrevista ao “Roda Viva”. Foto: reprodução

O meteorologista e climatologista Carlos Nobre voltou a fazer um alerta contundente sobre os efeitos do aquecimento global e o descongelamento acelerado dos solos congelados do planeta. Segundo o cientista, se a temperatura média global ultrapassar os 2 °C nas próximas décadas, os impactos serão irreversíveis.

Isso inclui o colapso de ecossistemas inteiros, como a Amazônia, e a liberação de bilhões de toneladas de gases do efeito estufa que estão atualmente retidos no subsolo. O alerta de Nobre reforça o limite estabelecido pelo Acordo de Paris, que recomenda conter o aumento da temperatura em até 1,5 °C.

“A ciência mostra com clareza que, se a gente não rapidamente reduzir [as emissões] e deixar em 1,5 °C, chegamos em 2050 passando de 2 °C”, afirmou Nobre durante entrevista ao programa “Roda Viva” na noite de segunda-feira (13). “Alguns estudos apontam que pode chegar até 2,5 °C e a gente perde, até 2100, 70% da Amazônia”, acrescentou.

Segundo ele, a elevação da temperatura global afeta diretamente o permafrost — o solo permanentemente congelado encontrado em regiões como a Sibéria, o norte do Canadá e o Alasca. O degelo desse solo libera metano, um gás até 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono na retenção de calor na atmosfera.

“Os estudos mostram que, se a temperatura chegar a dois graus até 2100, vamos liberar mais de 200 bilhões de toneladas de gases do solo congelado”, disse Nobre.

Esse fenômeno, explica o cientista, pode gerar um efeito dominó, acelerando ainda mais o aquecimento global. O permafrost funciona como uma cápsula natural de carbono, armazenando restos orgânicos e gases acumulados por milênios. Com o derretimento, esses materiais são liberados na atmosfera, intensificando o efeito estufa e reduzindo drasticamente a capacidade do planeta de se autorregular.

Entre as consequências mais graves, o pesquisador citou a extinção em massa de espécies animais e vegetais e o colapso de ecossistemas marinhos. “Isso também causará extinção dos recifes de corais. E já há espécies sendo extintas em todo o mundo”, afirmou.

Os corais, que sustentam parte essencial da biodiversidade oceânica, são extremamente sensíveis à elevação da temperatura das águas. O desaparecimento desses organismos compromete toda a cadeia alimentar marinha e ameaça comunidades costeiras que dependem da pesca.

Nobre também advertiu que o aumento contínuo das temperaturas tornará o planeta cada vez mais inóspito. “É totalmente possível, se não reduzirmos rapidamente as emissões, chegarmos a 3 ou 4 °C em 2100. As regiões equatoriais ao nível do mar terão uma temperatura que o corpo humano não resiste, o ano todo.

“O planeta vai ficar inabitável para nós humanos em 2100”, alertou. O cientista lembrou que o aquecimento acima dos 2 °C significaria um ponto de não retorno, no qual a Terra passaria a se aquecer por conta própria, sem possibilidade de reversão.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.