Kéfera e os influencers que querem privacidade depois de venderem a alma nas redes

Atualizado em 15 de outubro de 2025 às 14:26
Kéfera em vídeo sobre adolescência. Foto: reprodução

Uma moda esquisita da pós-modernidade é mercantilizar a própria intimidade nas redes sociais e, depois, reclamar de falta de privacidade.

Foi exatamente o que fez Kéfera Buchmann, uma das primeiras grandes youtubers do Brasil.

Em 2010, ela gravou um vídeo sobre vuvuzelas e viralizou – sabe-se lá por quê. De lá pra cá, ganhou a vida (e muita grana) com a internet. Como uma verdadeira T-Rex do YouTube, soube aproveitar muito bem a fama, produziu conteúdos cada vez mais pessoais e se tornou rica e prestigiada, inclusive no meio humorístico.

Na hora de usufruir das portas que se abriram – e que mudaram completamente sua vida – a exposição não parecia ser um problema. Mas agora, anos depois, resolveu reclamar na internet como se tivesse sido vítima de exploração. Esquece que foi ela quem escolheu vender a própria intimidade, o que torna suas queixas simplesmente ridículas.

Muitas outras pessoas já seguiram esse caminho seduzidas por dinheiro e likes. Eu até acredito que a fama tenha seus percalços, mas não dá pra reclamar se foi você quem bateu na porta da fama e entrou sorrindo. Convenhamos: é muita cara de pau.

Kéfera escreveu livros, fez cinema, televisão, estreou peças de teatro… tudo graças ao YouTube. E agora, quando não sabe mais como chamar atenção, encena um dramalhão se vitimizando pela própria escolha.

Em entrevistas, disse ter se sentido “invadida” em alguns momentos. Amiga: não dá pra invadir uma casa de portas escancaradas.

No X (Twitter), postou um vídeo reflexivo sobre “crescer diante das câmeras”, reclamando da exposição diante de várias câmeras que ela mesma comprou. É mole? O vídeo, de tão ensaiado, chega a ser patético: carão, drama e vitimismo. “O mundo esperava que eu fosse um exemplo”, diz ela, quase se colocando no lugar de uma Amy Winehouse destruída pela superexposição.

“Mas eu era só uma adolescente”, continua. Queixando-se exatamente de quem? Do público que consumiu as subjetividades que ela mesma colocou à venda?

Faça-me o favor.

Tem tanto assunto sério pra discutir, mas ela prefere fazer vídeo dramático fingindo ser vítima – típico de influencer que nunca se importou com privacidade de fato. É muito fácil construir a vida na internet e depois cuspir no prato que comeu. Se realmente estivesse incomodada, faria como Jout Jout, que simplesmente sumiu das redes e foi viver mochilando por aí.

Mas não. Em vez de se retirar, Kéfera dramatiza para continuar recebendo atenção, com reclamações vazias que não servem pra absolutamente nada (como boa parte dos influencers).

Amiga, apaga que dá tempo.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.