
O ministro Jorge Messias, Advogado-Geral da União e favorito de Lula para ocupar a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se o nome mais comentado entre políticos e lideranças evangélicas. Baiano, evangélico batista e de perfil moderado, Messias é visto por aliados do presidente como alguém capaz de unir técnica jurídica e apelo político, mas sua possível indicação reacendeu o debate sobre o papel da fé e da ideologia na mais alta corte do país.
Em um episódio do podcast produzido pelo Núcleo de Evangélicos do PT, Messias citou o Evangelho de Mateus ao dizer que “Deus pede a todos nós que sejamos pacificadores”. A referência bíblica, que valoriza quem concilia conflitos, parecia se aplicar a ele próprio.
O ministro precisaria buscar consenso em torno de seu nome, tanto no Senado quanto fora dele, num momento em que a ala evangélica se dividia entre entusiasmo e desconfiança.
Caso fosse confirmado, Messias seria o terceiro evangélico entre os 172 ministros que já integraram o STF em 134 anos de história. Antes dele, apenas dois ocuparam o cargo: o pastor presbiteriano André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro em 2021, e o batista Antônio Martins Villas Boas, nomeado em 1957.
Assim como Villas Boas, Messias atuava como diácono, uma espécie de assistente pastoral. Diferente de tempos anteriores, quando o catolicismo dominava o cenário religioso, declarar-se crente já não era um detalhe biográfico, mas um símbolo político.
Messias manteve relação próxima com comunidades evangélicas e chegou a representar Lula na Marcha para Jesus em 2023, quando foi vaiado ao citar o nome do presidente. No evento seguinte, preferiu não mencioná-lo e recebeu do apóstolo Estevam Hernandes um elogioso “a gente te ama também”.

O gesto marcou uma mudança na percepção do ministro, considerado um interlocutor mais discreto e sereno que outros integrantes do governo. Seu estilo conciliador agradava parte dos pastores, que o viam como um “crente de verdade”, capaz de reduzir resistências à sua nomeação.
Entre apoiadores, havia quem o comparasse a Cristiano Zanin, cuja atuação no STF surpreendeu conservadores por sua postura cautelosa em temas morais.
“Messias é um evangélico raiz”, disse o ex-líder da bancada evangélica Eli Borges (PL-TO). “Melhor ele do que um perfil Flávio Dino ou Moraes”. Cezinha de Madureira (PSD-SP) afirmou que “se o presidente ainda tiver juízo, ele indica o Messias”.
Já Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) declarou ver nele “um servidor exemplar, com convicções de um evangélico preocupado em fazer justiça e mostrar ao governo o papel importante das igrejas”.
Otoni de Paula (MDB-RJ) também demonstrou entusiasmo. “Messias é um cara conservador”, disse. “Não significa que, por ele ser de esquerda, seja progressista automaticamente. Ele é um evangélico de formação.”.
Já Damares Alves (Republicanos-DF) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ligados a Silas Malafaia, o classificaram como “esquerdista”, lembrando que, sob sua gestão, a AGU acusou o Conselho Federal de Medicina de tentar restringir o aborto legal após 22 semanas de gestação.
Em 2024, Messias participou de uma entrevista com o pastor Oliver Goiano, onde declarou que o PT tinha afinidades com princípios bíblicos, como a defesa da dignidade e o combate à desigualdade. “O cristão verdadeiro é o primeiro a defender a família, e eu nasci num lar cristão, onde a família é a base de tudo”, afirmou. Goiano o descreveu como “um evangélico conservador no campo moral e progressista na economia”.