Chefe militar dos EUA na América Latina deixa o cargo após tensões com Maduro

Atualizado em 16 de outubro de 2025 às 18:19
O almirante Alvin Holsey, chefe do Comando Militar Sul das Forças Armadas dos EUA. Foto: Franco Brana/AFP

O almirante Alvin Holsey, responsável pelas operações militares dos Estados Unidos na América Latina, anunciou que deixará o comando do Comando Sul (Southcom) no fim do ano. A decisão foi confirmada nesta quinta-feira (16) pelo secretário da Guerra, Pete Hegseth, e surpreendeu oficiais americanos, já que o cargo costuma ser ocupado por três anos. Holsey estava à frente do Southcom desde o final do ano passado.

Fontes do Departamento de Defesa afirmam que a saída ocorre em meio a divergências com o governo Donald Trump sobre as ações militares no Caribe. Segundo o New York Times, o almirante questionava a campanha contra embarcações supostamente ligadas ao tráfico de drogas que saíam da Venezuela em direção aos EUA. Cinco operações resultaram em 27 mortes recentes.

A demissão foi anunciada um dia depois de Trump declarar publicamente que autorizou a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir operações secretas no território venezuelano. Washington acusa o governo de Nicolás Maduro de abrigar o cartel Tren de Aragua, o que Caracas e Bogotá negam. O Palácio do Planalto manifestou preocupação e pediu explicações sobre a legalidade das ações americanas.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – Brazil Photo Press / Folhapress

Desde que reassumiu o poder em janeiro, Trump ampliou a presença militar na região. Ele equiparou cartéis de drogas a grupos terroristas e enviou cerca de 10 mil militares, além de navios de guerra, submarinos e caças F-35 para o Caribe. Uma base em Porto Rico foi reativada para coordenar as operações sob o comando direto de Holsey.

A saída do almirante também ocorre após tensões internas nas Forças Armadas americanas. Hegseth já havia forçado a demissão do general Charles Q. Brown, primeiro negro a chefiar o Estado-Maior Conjunto. Holsey, que também é negro, seria o segundo oficial de alta patente a deixar o cargo após atritos com o secretário.

Durante sua gestão, Holsey teve passagem polêmica pelo Brasil. Em visita programada a Rio Branco, no Acre, o militar americano solicitou mudanças de agenda, o que causou desconforto entre oficiais brasileiros. O episódio ocorreu antes do agravamento da relação entre Lula e Trump, marcado pela guerra tarifária e pela revisão do apoio de Washington ao ex-presidente Jair Bolsonaro.