Marina Silva diz que COP30 pode mudar o rumo do clima: “Parar de destruir a natureza por lucro”

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 19:08
Marina Silva durante discurso em sessão sobre financiamento para natureza. Foto: Rogério Cassimiro/MMA

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que a COP30, que será realizada em Belém (PA), pode mudar o rumo do enfrentamento global à crise climática. “Parar de destruir a natureza por lucro”, disse, ao definir o espírito que espera ver consolidado no encontro. Para ela, o evento deve marcar uma virada histórica, saindo da fase de negociações para a de implementação das ações climáticas previstas no Acordo de Paris:

Qual o maior desafio para o Brasil, neste ano, à frente da COP30 em Belém, na Amazônia?

Um dos maiores desafios – e obviamente não só do Brasil, mas de 196 países, ainda que o Brasil tenha o papel de liderar esse processo – é fazer com que a COP30 seja um novo marco referencial. Nós ficamos os últimos 33 anos discutindo uma série de regramentos.

Agora, após os dez anos do Acordo de Paris, nós já cumprimos toda essa agenda, e tomamos a decisão de que precisamos ter os meios de implementação, e a COP29 estabeleceu que tem que ser 1,3 trilhão de dólares por ano para ajudar os países em desenvolvimento a fazerem suas transições [R$ 7 bilhões, a serem atingidos até 2025]. Portanto, a COP30 tem o papel de criar esse lastro, esse novo caminho para a implementação daquilo que nós já decidimos.

Por que o financiamento climático continua sendo um ponto de tensão entre países ricos e em desenvolvimento?

O debate não pode ganhar essa dimensão de que os países desenvolvidos, em lugar de fazerem a sua parte, devolvem para os países em desenvolvimento.

Eu vejo que há uma preocupação muito grande com a biodiversidade, com as florestas tropicais. O Brasil apresentou um mecanismo inovador de financiamento global a partir de recursos privados, que é o mecanismo Floresta Tropical para Sempre (TFFF). Ele possibilita alavancar recursos privados oriundos de países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Esses recursos são destinados a pagar por hectare de floresta protegida, seja no Brasil, seja no Congo, na Indonésia, na Malásia, onde existam florestas, bem como implementar processos de restauração e proteção de comunidades locais. (…)

Painel em Belém (PA) anuncia a COP-30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada na Amazônia em 2025. Foto: Reprodução

Comparando com muitos países, o Brasil tem uma legislação ambiental bastante forte, mas é difícil implementá-la. Por que a aplicação das leis no Brasil ainda é um ponto tão fraco?

Eu não diria que ainda é um ponto tão fraco. Eu acho que ultimamente ficou tão forte que uma parte da visão reacionária e contrária a essa legislação começou a agir para mudá-la. Enquanto ela não era implementada em governos anteriores, não havia uma atitude de querer mudar a lei no Congresso.

Foi só ter um governo como o presidente Lula, que está reduzindo o desmatamento, retomando a criação de unidades de conservação, fazendo a desintrusão das ações criminosas nas terras indígenas, demarcando as terras indígenas, destinando as áreas com florestas que ainda não foram destinadas para que sejam apenas de proteção ou de uso sustentável… Foi só começar esse processo que começou toda uma batalha dentro do Congresso Nacional – de parte do Congresso, não todo ele – para mudar a legislação no sentido de imprimir retrocessos.

Não é fácil você tirar a lei do papel em qualquer lugar do mundo. Mas é possível fazer isso. (…)

Se a senhora hoje pudesse mudar uma coisa que daqui a alguns anos, olhando para trás, a senhora possa dizer, “isso foi realmente um marco e eu ajudei a fazer”, o que seria?

Eu acho que mudar a mentalidade. Sobretudo a mentalidade de dizer e não fazer, porque hoje muita coisa é dita, mas não é feita. Parar de destruir os recursos de milhares de anos pelo lucro de poucas décadas. Mudar a mentalidade de que a gente para ser próspero, a gente precisa consumir mais. Nós não precisamos ter para nos sentir prósperos e felizes. O que nós precisamos é ser mais justos, mais amorosos, mais respeitosos, mais harmônicos com a gente mesmo, uns com os outros e com a natureza.