
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
A ausência de Jair Bolsonaro na conversa entre o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio e o ministro das Relações Exteriores brasileiro Mauro Vieira mostra que, neste momento, o papel de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos resumiu-se ao de cabo eleitoral de Lula para 2026 e motivo de constrangimento para a Câmara dos Deputados. Sim, nunca antes na história deste país uma estratégia deu tão errado.
Em suma, aproveitar que a carne do Brasil foi amaciada pela pancada das sanções e ganhar em cima.
Vejam só que são razões alinhadas aos interesses legítimos dos EUA e não às demandas de um clã. Claro que Trump adoraria ter alguém que age como seu pet, como Javier Milei, tomando café da manhã no Palácio do Alvorada a partir de 2027. E, certamente, pode usar suas big techs e a CIA para ajudar no serviço. Mas o Brasil não se curvou à chantagem imposta pela Casa Branca (como queriam alguns entreguistas por aqui) e, apesar dos prejuízos econômicos e sociais, está seguindo em frente, vendendo carne para a Indonésia, café para a China, comprando frutas para a merenda escolar.

Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo bem que tentaram melar a reunião de Rubio e Vieira, tal como fizeram com a de Fernando Haddad com o secretário do Tesouro Scott Bessent. Mal foram atendidos desta vez, uma vez que a situação mudou. Trump resolveu parar de rasgar dinheiro.
Após a reunião amistosa de ontem, o deputado, que vendia a ideia de que Rubio como interlocutor destroçaria os emissários de Lula, passou a vender a tese de que o Brasil saiu derrotado porque não houve mudanças nas tarifas. Quer despistar que o mais importante do encontro foi o próprio encontro ocorrer e não ser colocada na mesa nenhuma demanda sobre anistia ou perdão a Bolsonaro – a principal pauta de Eduardo.
Trump é imprevisível e tudo pode acontecer, inclusive nada. Por isso, são pueris e eleitoreiras as declações de Lula dizendo que não pintou química, mas uma indústria petroquímica entre ele e o colega. Por hora, o Brasil vai negociando e se adaptando, e o governo Lula colhendo os frutos políticos de um presente dado por seus adversários. O grande perdedor até o momento é Eduardo Bolsonaro e seus assessores para assuntos aleatórios, que traíram o seu país à toa.
Enquanto isso, a Câmara dos Deputados segue sócia do tarifaço ao garantir a ele o o direito de trair o seu país. Para que PEC da Blindagem, não é mesmo?