China encontra o ponto fraco dos EUA com novas restrições a minerais estratégicos; entenda

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 21:25
Mina de terras raras na China
Mina de terras raras na China – Reuters via BBC News

O Ministério do Comércio da China divulgou na última semana o “Anúncio nº 62 de 2025”, um documento que vai além de formalidades — ele reacendeu tensões na trégua tarifária entre China e Estados Unidos.

O texto estabelece restrições rigorosas à exportação de terras raras — um grupo de 17 elementos essenciais como neodímio, lantânio, cério e ítrio. Essas substâncias são fundamentais na fabricação de smartphones, painéis solares, veículos elétricos e equipamentos de alta precisão.

Sob as novas regras, empresas estrangeiras precisarão obter autorização chinesa para exportar produtos que contenham qualquer quantidade de terras raras, além de declarar o uso pretendido.

Em resposta, os EUA ameaçaram:

  • Impor tarifa de 100% sobre produtos chineses;
  • Estabelecer controles de exportação em softwares estratégicos.

Como disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent:

“A China apontou uma bazuca contra cadeias de suprimento globais — não vamos permitir isso.”

A China reagiu afirmando que os EUA estão “provocando deliberadamente pânico desnecessário” sobre o tema. Segundo um porta-voz do Ministério do Comércio, pedidos para uso civil que estiverem dentro das normas serão aprovados.

Além das restrições às terras raras, os dois países impuseram novas taxas portuárias sobre embarcações uma da outra, o que intensifica ainda mais os atritos.

A escalada ocorre após meses de relativa calmaria desde a trégua acordada em maio. Nesta mesma semana, as medidas estratégicas foram vistas como forma de preparar o terreno antes de nova rodada de negociações entre Donald Trump e Xi Jinping, prevista para este mês.

Impacto sobre cadeias globais de suprimento

Especialistas preveem que as novas restrições podem desequilibrar as cadeias de suprimento dos EUA. Para Naoise McDonagh, da Universidade Edith Cowan, “o momento frustrou o cronograma de negociações que os americanos esperavam”.

A China domina cerca de 70% do fornecimento global de metais usados em ímãs para motores de veículos elétricos, segundo a analista Natasha Jha Bhaskar.

Internamente, o país investiu pesado para manter sua posição de liderança no processamento de terras raras, com pesquisa e infraestrutura tecnologicamente avançadas.

Caças como o F-35
Caças como o F-35 são fabricados com minerais de terras raras – Reprodução/BBC News

O papel do Brasil e dos rivais

O Brasil aparece como ator estratégico nessa disputa: estima-se que o país detenha até 23% das reservas mundiais de terras raras, segundo o relatório U.S. Mineral Commodity Summaries.

Porém, apesar de possuir pesquisas acadêmicas robustas e mineração já ativa em estados como Minas Gerais e Goiás, o Brasil representa menos de 1% da produção mundial — boa parte das reservas permanece em regiões difíceis como a Amazônia.

Também se menciona a Austrália como potencial rival, embora o país enfrente desafios de infraestrutura e elevação de custos.

Estratégia chinesa e cenários para os EUA

Apesar do impacto econômico das terras raras ser pequeno (menos de 0,1% do PIB chinês), seu valor estratégico é enorme. A China detém uma arma de pressão nas negociações com os EUA, mesmo que economicamente o setor represente uma fração insignificante da economia chinesa.

Os EUA tentam contrapor com políticas de estímulo à produção nacional e restrições tecnológicas à China — mas especialistas avaliam que tais medidas terão efeito limitado no curto prazo.

Para finalizar, ainda que os EUA acusem a China de “traição”, há abertura declarada para diálogo. Autoridades chinesas enfatizam a necessidade de manter comunicação para “resolver divergências e promover desenvolvimento estável” nas relações bilaterais.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.