“Cristão não apoia”: Berros de Malafaia expõem medo pelo avanço de Lula entre evangélicos

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 23:28
O pastor Silas Malafaia em manifestação e Lula com o bispo Samuel Ferreira em reunião, montagem de duas fotos
O pastor Silas Malafaia em manifestação e Lula com o bispo Samuel Ferreira em reunião – Reprodução/Redes Sociais

O evangélico esteve com o petista na quinta-feira (16), em Brasília. Acompanhando o advogado-geral da União, Jorge Messias, apontado como favorito para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, ele orou pelo Brasil e pelo chefe do governo.

“O pastor nos relatou o crescimento da igreja e o acolhimento aos fiéis. Pude reiterar a relação de respeito que tenho pela Assembleia de Deus e o relevante trabalho espiritual e social promovido pela igreja”, destacou Lula nas redes sociais.

O fato de Samuel Ferreira ter posado sorridente ao lado do presidente e de aliados, como a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, já sinalizava uma reaproximação do governo petista com setores evangélicos. Principalmente porque, em 2022, o bispo declarou apoio a Bolsonaro e chegou a levá-lo a um culto na sede de sua igreja, no Brás, em São Paulo.

O embate ganha outra dimensão quando se observam os números das igrejas lideradas por cada pastor. O desconforto de Malafaia deixa de ser apenas político para se tornar também uma disputa de influência.

A Assembleia de Deus Vitória em Cristo, denominação liderada por Malafaia, tem cerca de 200 mil membros no Brasil e no exterior. Isso de acordo com dados divulgados pelo próprio pastor em 2025, quando ele também afirmou que a ADVEC já tem mais de 150 templos.

 

São números expressivos, mas que parecem irrisórios perto dos nove milhões de membros filiados à Assembleia de Deus Ministério Madureira. Os 200 mil que Malafaia tem de fiéis, o bispo Samuel Ferreira tem de obreiros. Em 2022, já eram 1.249 templos.

Para quem acompanha de fora o universo evangélico, Silas Malafaia costuma ser visto como o pastor mais influente do país. Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), ele mobiliza grandes públicos e se destaca pelo discurso ferrenhos.

Já Samuel Ferreira, embora menos conhecido fora dos círculos religiosos, consolidou-se como figura de peso na política. Há anos é chamado de “padrinho” de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e mantém interlocução direta com autoridades em Brasília.

Seu pai, Manoel Ferreira, bispo primaz do Ministério Madureira, também tem histórico de diálogo com o poder. Em 2021, ele se reuniu com Lula, um movimento interpretado, à época, como sinal de reaproximação entre o petista e parte da ala evangélica, o que irritou líderes bolsonaristas.

Para o bolsonarismo, cuja base eleitoral depende fortemente do voto evangélico, a perda de apoio de qualquer líder religioso é motivo de alerta, sobretudo de alguém que comanda uma igreja quase 50 vezes maior que a de Silas Malafaia. Nesse contexto, o último vídeo do pastor pode soar menos como indignação e mais como um sinal de desespero e medo.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.