
Neste domingo (19), os bolivianos vão às urnas para escolher o novo presidente do país. A eleição, em segundo turno, encerra um ciclo de 20 anos de governos de esquerda e ocorre em meio à mais grave crise econômica das últimas quatro décadas.
Disputam o cargo Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), de centro-direita, e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Livre, de direita. O país tem 7,9 milhões de eleitores, e a votação ocorrerá entre 9h e 17h, pelo horário de Brasília. O novo governo eleito nas urnas, tomará posse em 8 de novembro.
O pleito marca o fim da era iniciada por Evo Morales em 2006 e encerrada pelo atual presidente, Luis Arce. Durante esse período, a Bolívia viveu prosperidade com a nacionalização do gás, mas agora enfrenta desabastecimento e filas para conseguir combustível e produtos básicos, reflexo da escassez de divisas e da inflação que já supera 23% em 12 meses.
Segundo pesquisa da Ipsos-Ciesmori divulgada no último domingo (12), Quiroga lidera as intenções de voto com 44,9%, enquanto Paz aparece com 36,5%. A diferença indica uma disputa apertada em um cenário de forte descontentamento popular.

O governo de Arce praticamente esgotou as reservas internacionais para sustentar os subsídios aos combustíveis. Com recessão prevista pelo Banco Mundial, o próximo presidente herdará um quadro fiscal crítico. Quiroga, engenheiro de 65 anos formado nos Estados Unidos, propõe injetar US$ 12 bilhões na economia com recursos de organismos multilaterais. “Os dólares vêm de fora. Se isso não for feito, não há solução”, afirmou o candidato, que promete restabelecer o fluxo de divisas em até três meses.
Rodrigo Paz, economista de 58 anos e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), defende um caminho mais cauteloso. “O problema é pedir crédito sem organizar a casa. O outro está indo estender a mão, esperando que chegue o dinheiro em condições muito duras”, declarou. Ele propõe reestruturar o orçamento público antes de buscar novos empréstimos e reduzir gradualmente o déficit, que já leva a dívida externa ao patamar de 30% do PIB.
Ambos os candidatos concordam em manter os subsídios aos combustíveis apenas para o transporte público e setores mais vulneráveis, além de preservar programas sociais e bônus. Para economistas locais, essas promessas são difíceis de conciliar com o esforço de estabilização fiscal. “As pessoas têm suas esperanças depositadas em promessas eleitorais muito difíceis de cumprir ou talvez impossíveis”, avaliou o analista econômico Gonzalo Velasco.
Mesmo fora da disputa, Evo Morales segue como figura influente. Impedido de concorrer por decisão judicial e alvo de uma ordem de prisão por suposto abuso de menor — acusação que nega —, o ex-presidente incentivou o voto nulo no primeiro turno. O Movimento ao Socialismo (MAS) perdeu quase toda sua representação legislativa, e parte do eleitorado indígena pode ficar sem representação no novo cenário político.