Apetite pelo poder acirra disputa na direita e trava escolha de sucessor de Bolsonaro em 2026

Atualizado em 19 de outubro de 2025 às 13:36
Michele e o senador Flávio Bolsonaro. Fotomontagem: Reprodução Internet

A indefinição sobre quem será o candidato da direita à Presidência em 2026 tem ampliado a divisão entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e nomes do Centrão. O apetite das várias correntes bolsonaristas é grande, e as divergências internas são inevitáveis. Com um detalhe: o anúncio do nome que enfrentará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba sendo mais difícil por conta das penas impostas aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado no final de 2022 e, posteriormente, nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. O impasse se consolidou em Brasília nas últimas semanas, em meio às articulações para reorganizar a direita e acelerar a sucessão presidencial.

Composta por dirigentes de PP, União Brasil, Republicanos e PSD, a cúpula do Centrão pressiona por uma decisão ainda neste ano. Os partidos defendem que o Congresso vote rapidamente o texto da dosimetria, que prevê a redução de penas e pode beneficiar Bolsonaro. O grupo avalia que o tema da anistia vem sendo usado por bolsonaristas para adiar o apoio a outro nome e insistir na candidatura do ex-presidente, mesmo inelegível.

Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do Paraná, Ratinho Júnior. Fotomontagem: Reprodução

Entre os principais articuladores estão União Brasil e PP, que lideram a defesa da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Caso Tarcísio não aceite disputar a Presidência, a alternativa seria o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). A movimentação também tem o aval das direções nacionais de Republicanos e PSD, cujos dirigentes reforçam o discurso de renovação política.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, destacou em evento com empresários que Tarcísio representa “a cereja do bolo da renovação” e citou Ratinho Júnior e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, como pré-candidatos de sua legenda. Kassab afirmou que, caso o governador paulista entre na disputa, o PSD caminhará junto com ele, sinalizando um realinhamento entre partidos de centro e centro-direita.

A estratégia do Centrão busca demonstrar que não há apoio no Congresso a uma anistia ampla e irrestrita aos envolvidos em atos golpistas. A proposta de reduzir penas, segundo líderes partidários, também serviria como aceno a Bolsonaro, evitando o risco de uma pena em regime fechado e abrindo espaço para um pacto político que permita avançar com uma candidatura única.

Deputados avaliam que o projeto precisa ser aprovado até o fim de 2025 para evitar que a direita entre desorganizada no ano eleitoral. “Depende apenas de Bolsonaro”, afirmou o deputado Claudio Cajado (PP-BA), vice-presidente da legenda, ao defender a votação como um gesto para pacificar o campo conservador. No entanto, o texto enfrenta resistência no Senado, onde Davi Alcolumbre (União-AP), aliado do governo, tem se posicionado contra o formato discutido na Câmara.

Mesmo com o impasse, o relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) tenta costurar um acordo entre oposição e bolsonaristas para aprovar a versão que prevê apenas a redução de penas. Segundo ele, as conversas continuam para “articular melhor a votação” e destravar a pauta, que enfrenta forte resistência tanto no Senado quanto no Supremo Tribunal Federal (STF).

As disputas internas também atingiram a família Bolsonaro. O Centrão descarta apoiar o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como candidato a presidente ou vice, após críticas públicas dele a dirigentes da direita. Embora Tarcísio e Ratinho continuem sendo os nomes preferidos, aliados admitem avaliar outros quadros, como Michelle Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), especialmente para a vice-presidência. Enquanto isso, o grupo tenta conter o avanço de alas governistas dentro do Centrão, como os ministros André Fufuca (PP) e Celso Sabino (União).

Lindiane Seno
Lindiane é advogada, redatora e produtora de lives no DCM TV.