Centrão se afasta do governo Lula e trava o Congresso mirando 2026

Atualizado em 20 de outubro de 2025 às 8:59
Arthur Lira em destaque, um dos principais deputados do Centrão. Foto: reprodução

O Palácio do Planalto enfrenta dificuldades para manter o apoio de partidos que integram a base aliada, um resultado de um Congresso cada vez mais fragmentado. Siglas que ocupam ministérios, como MDB, PP, União Brasil e PSD, reduziram significativamente o índice de fidelidade nas votações da Câmara dos Deputados em 2025. O movimento, que coincide com o fortalecimento da direita em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem resultado em derrotas sucessivas para o governo Lula em votações estratégicas.

Um levantamento do jornal O Globo mostra que o MDB, por exemplo, registrava 75% de adesão às pautas do Executivo em 2023. Hoje, o índice caiu para 61%, mesmo com ministros de peso no governo, como Simone Tebet (Planejamento), Renan Filho (Transportes) e Jader Filho (Cidades).

O PP e o União Brasil também reduziram o apoio, de 65% e 60%, respectivamente, para 58% e 51%. Na votação da Medida Provisória (MP) sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que acabou derrotada, 97% dos deputados do PP votaram contra o governo.

“O PP não é base de apoio ao governo, mas, apesar disso, só não votamos com o governo no caso da MP, pois se tratava de aumento de carga tributária”, justificou o líder da bancada, Doutor Luizinho (PP-RJ). O deputado Evair de Mello (PP-ES) foi mais direto: “Como ninguém sabe para onde o governo está indo, está todo mundo pulando fora do barco”.

No União Brasil, o clima é semelhante. Embora o partido ainda mantenha Celso Sabino no Ministério do Turismo, o senador Efraim Filho (PB) criticou a condução econômica do Executivo: “O ministro Fernando Haddad trata todos os dias de uma agenda de arrecadação, mas parece ter relegado a segundo plano a de corte de despesas”.

Câmara dos Deputados. Foto: reprodução

Enquanto o cenário na Câmara preocupa o Planalto, o Senado mantém um comportamento mais estável. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), tem atuado como interlocutor de Lula e tenta viabilizar a indicação de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para o Supremo Tribunal Federal (STF).

A composição do Senado, mais equilibrada entre regiões, também favorece o governo, já que Norte e Nordeste, onde o PT tem base sólida, possuem maior representação proporcional.

O MDB, embora dividido internamente, insiste que continua aliado do Planalto. Dirigentes afirmam que o afastamento reflete o teor das matérias votadas, e não uma ruptura política. Mesmo assim, setores do partido, especialmente em São Paulo e no Rio Grande do Sul, adotaram postura mais distante do governo.

Já no PSD, a fidelidade caiu de 80% para 68% em três anos. O partido foi alvo recente de demissões em cargos do Ministério da Agricultura após a derrota da MP do IOF, medida vista como parte da “reorganização da base”, segundo a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

“Não tem nada de retaliação, é uma reorganização da base. Quem está sendo leal ao governo tem que ser valorizado, e quem não está não tem por que ficar”, disse Gleisi. O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), atribui o enfraquecimento da base à antecipação do calendário eleitoral. “Quem optar pelo caminho de votar contra o governo tem de seguir o caminho da oposição”, afirmou.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.