
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo ingressou com uma ação civil contra o shopping Pátio Higienópolis, na capital paulista, pedindo indenização de R$ 759 mil por danos morais a um adolescente negro que afirma ter sido vítima de racismo dentro do centro comercial. O caso, noticiado por Mônica Bergamo na Folha, ocorreu em 16 de abril deste ano.
Segundo o processo, o jovem, aluno do colégio Equipe, foi ao shopping com dois colegas, uma adolescente negra e uma amiga branca, para almoçar antes das aulas. Ainda na praça de alimentação, uma funcionária de segurança abordou a jovem branca e perguntou se os dois colegas negros “estariam incomodando ou pedindo dinheiro”.
O episódio, presenciado por um professor da escola, gerou forte comoção entre os alunos e levou o colégio a promover uma aula especial sobre letramento racial e práticas antirracistas no dia seguinte.
A mãe de uma das adolescentes, Leni Pires de Mercês, relatou que os estudantes ficaram abalados após a abordagem. “Eles choraram muito, mas levei minha filha até o shopping para registrar uma reclamação. Ela precisa saber que pode frequentar esses espaços”, afirmou.
O irmão de um dos jovens, Luiz Henrique Cunha, de 18 anos, também comentou que o racismo velado é recorrente na região. “Nunca sofri um caso específico, mas sempre que eu ia almoçar ali no entorno, no shopping, eram sempre aqueles olhares”, contou.

Em nota enviada à imprensa em abril, o Pátio Higienópolis disse lamentar o ocorrido e afirmou que o comportamento da funcionária “não reflete os valores do shopping”. O estabelecimento declarou que o caso estava “sendo tratado com máxima seriedade” e que possui programas contínuos de treinamento e letramento racial, que “serão reforçados para garantir um ambiente seguro e acolhedor para todos”.
A Defensoria, por sua vez, argumenta que o caso não é isolado. O órgão cita no processo outro episódio de racismo ocorrido em 2022, quando três adolescentes negros foram seguidos por seguranças dentro de uma loja do mesmo shopping. Na época, o caso foi denunciado pelos pais de um dos meninos, entre eles Evie Santiago, integrante da comissão antirracista de pais e alunos do colégio Equipe.
“É importante ver os estudantes se mobilizando e defendendo os colegas, como fizeram agora. Infelizmente, o shopping não se responsabiliza pelos atos dos funcionários e mantém uma postura racista”, declarou.
A direção do colégio informou que está oferecendo acolhimento psicológico e apoio jurídico às famílias dos dois alunos. Representantes da escola acompanharam os adolescentes até o shopping para formalizar a denúncia e registrar o boletim de ocorrência.
“Nosso papel é garantir que os estudantes se sintam seguros e tenham a confiança de reagir diante de qualquer situação de preconceito”, disse um dos coordenadores.