“Esquizofrenia”: o show de transfobia dos bolsonaristas Nikolas e Campagnolo em podcast

Atualizado em 20 de outubro de 2025 às 12:31
A deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PL-SC) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Foto: Reproduçõ

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e a deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PL-SC) tiveram declarações transfóbicas veiculadas em uma entrevista ao podcast Inteligência Ltda. Os dois bolsonaristas foram convidados para discutir “a suposta doutrinação da esquerda nas escolas”, mas desviaram o foco para atacar pessoas trans.

Em um trecho do programa que circula nas redes, Nikolas faz uma analogia criminosa e desrespeitosa: “Você percebe que a realidade não é uma construção daquilo que você pensa. A realidade é aquilo que está em si mesmo. Então se eu chego e falo, olha, tudo bem, eu me sinto um poste, tá? Você pode pintar você de cinza, botar uma luz na sua cabeça, não me importa. Mas agora você me obrigar a te chamar de poste é outra história”, disse o deputado, reclamando do uso do nome social.

Ana Caroline Campagnolo, que atua na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, seguiu a mesma linha de ataque. Ela afirmou que pessoas trans sofrem de um “problema mental” e associou a transexualidade à esquizofrenia.

“Se você está diante de uma pessoa que ela fala só do que ela sente, ignorando a realidade à volta, você diz que essa pessoa é louca. No geral, você diz isso: essa pessoa não está bem da cabeça. O que ela sente, ela acha que é real mesmo sem ser, você vai… Esquizofrenia”, declarou.

A deputada ainda citou casos de anorexia e bulimia para comparar com transexualidade: “Vamos supor que a Andréa comece a apresentar um quadro de anorexia, de bulimia. Ela começa a vomitar, você observa que ela vai pro banheiro vomitar. Está cada dia mais magra, agora está com 60 quilos, aí ela aparece com 50, 45. Ela tem uma imagem distorcida de si mesma”.

Em seguida, ela comparou a condição de pessoas trans à de uma pessoa anoréxica que buscaria uma cirurgia bariátrica. “Ela chega pra ti e diz, olha, eu não tô feliz com meu corpo, eu não me identifico com esse corpo gordo que eu tenho, eu me sinto uma pessoa gorda, então eu quero fazer uma cirurgia bariátrica. Pois é, você ia dizer, olha, não é o seu corpo que não está saudável, sua mente, né?”, concluiu.

As falas foram repudiadas por entidades de direitos humanos e por usuários nas redes sociais, que apontaram violação à dignidade das pessoas trans. O Conselho Nacional LGBT+ lembrou que a transexualidade não é classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde desde 2019.

Nikolas Ferreira já havia sido denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por declarações semelhantes durante o Dia Internacional da Mulher, quando vestiu uma peruca e afirmou ser “uma mulher com pênis”. Campagnolo, por sua vez, é conhecida por defender projetos de “escola sem partido” e por ataques frequentes a grupos feministas e à população LGBTQIA+.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.