
A Justiça dos Estados Unidos apontou que o presidente argentino Javier Milei, sua irmã Karina Milei e o empresário norte-americano Hayden Mark Davis podem ser os verdadeiros beneficiários dos lucros gerados pela $Libra, uma criptomoeda lançada em 2025 e promovida em redes sociais como símbolo da “liberdade econômica” argentina.
A juíza Jennifer Rochon, do Tribunal do Distrito Sul de Nova York, fez a afirmação ao rejeitar um pedido de quatro fundos de investimento que buscavam vincular os ganhos do projeto ao Estado argentino. Segundo ela, os rendimentos do $Libra não pertencem à República Argentina, mas aos indivíduos envolvidos.
O $Libra foi um token digital criado por Davis, apoiador declarado de Milei, e divulgado pelo presidente em sua conta no X (antigo Twitter) sob o slogan “Viva La Libertad”.
O ativo, lançado na rede blockchain Solana, colapsou poucas horas depois, perdendo 89% do valor de mercado e causando prejuízos estimados em 251 milhões de dólares a investidores. Após o escândalo, Milei apagou suas publicações e afirmou não ter relação com o projeto.
Na decisão, Rochon explicou que os fundos — Palladian Partners, HBK Master Fund, Hirsh Group e Virtual Emerland International Limited — não apresentaram provas concretas de que o Estado argentino tenha se beneficiado do $Libra. Esses grupos são credores de 1,5 bilhão de euros por causa do não pagamento dos “cupons PBI” emitidos após o default de 2001.
Eles tentam rastrear bens e ativos argentinos para garantir a execução da dívida, mas a magistrada observou que as evidências apresentadas — reportagens, postagens em redes sociais e um acordo com a plataforma Cube — não sustentam essa hipótese.
O parecer da Oficina Anticorrupción argentina, citado por Rochon, reforçou que as publicações de Milei sobre o token devem ser consideradas “de caráter pessoal”, não oficiais. A juíza destacou ainda que, mesmo que futuramente se prove que o $Libra envolveu atividades ilícitas, isso não significa que o governo argentino seja dono dos ativos neste momento.
O caso, segundo ela, deve ser investigado pela Justiça argentina ou pelos tribunais britânicos, e não pelos norte-americanos.