
Em um depoimento emocionado no programa “GloboNews Debate”, a influenciadora Cíntia Chagas, vítima de violência doméstica do ex-marido, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), fez um gesto de autocrítica ao reconhecer que foi injusta com o movimento feminista nos últimos anos. Ela foi convidada para participar ao lado de Manuela d’Ávila, ex-deputada federal.
Durante a participação, Chagas relembrou os episódios de agressões sofridas e o que a levou a criticar as feministas após os episódios de violência. A influenciadora, que tem um histórico de postura conservadora, contou que foi melhor acolhida pelos movimentos de defesa das mulheres do que pelos aliados da extrema-direita, que outrora a apoiaram.
Em um momento de reflexão, Chagas afirmou que, depois de passar por episódios de agressão, ela se voltava contra as feministas, um movimento ao qual se opunha.
“Eu recebi apoio de muitas seguidoras, abraços em palestras, até quando eu fui palestrar em Portugal, mas as críticas vorazes que teceram contra mim vieram de mulheres de direita. Mas eu não me sinto ressentida, eu não tenho ressentimento porque eu fui uma delas”, disse Chagas.
Se a Cíntia Chagas depois de hoje não acordar pro horror que é a extrema-direita, ela não acorda nunca mais.
Manuela d’Ávila, que mulher incrível! Quê didática! Tenho muito orgulho do meu voto no Haddad junto dela em 2018. pic.twitter.com/SlUvcH6e7W
— carol oliva 🚩 (@carololivapsi) October 22, 2025
A influenciadora lembrou de uma agressão física grave, quando seu ex-marido lançou uma faca contra ela, episódio que foi registrado em boletim de ocorrência. “No dia subsequente a essa agressão, eu fui para os meus stories e acabei com a raça das feministas”, revelou.
Em sua fala, ela reconheceu que as críticas eram uma forma de expressão de raiva que vinha de sua própria situação de violência doméstica. “Eu olhava para trás e via que a raiva que eu tinha das feministas vinha da raiva que eu tinha do que vivia no meu casamento”, explicou.
Chagas comparou sua postura a uma criança que pratica bullying, sugerindo que ela, na época, estava externando sua dor e negação. “Era um processo de negação, porque essas mulheres tocavam em um assunto que eu não queria encarar. Eu sempre falava bem do meu casamento para que eu mesma acreditasse que estava dando certo”, afirmou.
A influenciadora pediu perdão por suas palavras passadas e afirmou que sua postura foi errada, mas com o tempo ela passou a compreender o impacto de suas atitudes.
“Eu peço a Deus que, em algum momento, elas entendam que estavam agindo contra elas mesmas”, disse. Chagas concluiu que, hoje, tenta corrigir os erros cometidos e reconectar-se com os movimentos feministas, os quais, em sua visão, estavam certas desde o início.
Em sua defesa, Manuela d’Ávila, também presente no programa, elogiou a coragem de Chagas em reconhecer seus erros. “Essa coragem da Cíntia, é talvez o fato mais importante para a gente debater violência doméstica no Brasil neste ano”, afirmou d’Ávila, destacando a importância do enfrentamento da violência contra as mulheres, especialmente em um contexto onde o discurso de ódio e a violência política se ampliam, muitas vezes relacionados ao aumento dos feminicídios.
Manuela ressaltou que a violência e o discurso de ódio muitas vezes são fomentados por grupos de extrema-direita, que estruturam seus ataques através de postagens falsas e ameaças. “Não é caso casual que tenhamos organizações de extrema-direita que estruturam seus discursos a partir de postagens falsas e ameaças de estupro”, destacou.
A ex-deputada também apontou que, para muitas mulheres, o que se discute é o preço de uma felicidade dentro do modelo de relacionamento tradicional, em que a realização pessoal está atrelada à manutenção da família.
“Todas nós mulheres queremos que tudo dê certo, eu também quero que meu casamento dê certo. O que está em debate entre nós é qual é o preço para isso”, comentou, enfatizando que a felicidade de todas as mulheres do Brasil, especialmente das que não têm as mesmas condições, está diretamente ligada a políticas públicas que garantam direitos básicos, como a educação infantil e a segurança.