Por que a ‘Bancada Cristã’ está causando tanto barulho entre os deputados

Atualizado em 23 de outubro de 2025 às 15:39
Presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao lado de membros da “Bancada Cristã” durante culto. Foto: Marina Ramos/Agência Câmara

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta (22), por 398 votos a 30, o regime de urgência para a proposta que cria oficialmente a chamada “Bancada Cristã” no Congresso Nacional. A medida permite que o projeto seja levado diretamente ao plenário, sem passar pelas comissões temáticas.

O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que apoiou o requerimento, afirmou que a decisão reflete o alinhamento entre parlamentares evangélicos e católicos. A proposta é uma iniciativa dos líderes das frentes parlamentares evangélica e católica, Gilberto Nascimento (PSD-SP) e Luiz Gastão (PSD-CE).

O texto prevê que a nova bancada tenha representação no colégio de líderes, participando das decisões sobre a pauta de votações e podendo indicar membros para comissões. Na prática, o grupo teria poder semelhante ao das maiores bancadas partidárias.

Segundo os defensores da proposta, o objetivo é unir parlamentares em torno de valores e princípios cristãos, sem distinção partidária. Luiz Gastão argumentou que mais de 80% dos brasileiros se declaram cristãos e que o Congresso deve refletir essa maioria. “Nosso propósito é que Jesus Cristo esteja presente nas decisões desta Casa”, afirmou o deputado cearense.

Culto na Câmara. Foto: Kevin Lima/g1

A iniciativa, no entanto, gerou reação de parlamentares da oposição. Para integrantes do PSOL e de outros partidos de esquerda, a criação da Bancada Cristã fere o princípio da laicidade do Estado e institucionaliza um privilégio religioso dentro do Parlamento. A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) afirmou que transformar a fé em ferramenta política é “inconstitucional e perigoso”.

O deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) classificou a proposta como um “escândalo” e defendeu que a Câmara deve representar todas as crenças e também os cidadãos sem religião. Ele afirmou que, caso a criação da bancada seja aprovada em plenário, o partido recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar barrar o projeto.

A aprovação do regime de urgência foi articulada após um culto ecumênico realizado na própria Câmara, com participação de parlamentares das duas frentes religiosas. O evento, segundo aliados, foi simbólico para demonstrar a força política das bancadas de fé, que já atuam de forma conjunta em votações sobre costumes, educação e temas morais.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.