
Alvo de um novo plano de assassinato, desarticulado em ação da Polícia Civil nesta sexta-feira (24), o promotor de Justiça Lincoln Gakiya vive há mais de uma década sob escolta policial permanente por causa das ameaças de morte que recebe do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele é perseguido pela facção criminosa ao menos desde 2005, quando iniciou uma série de investigações que resultaram na transferência de chefes do grupo para presídios de segurança máxima.
Gakiya integra o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) em Presidente Prudente, no interior paulista. Ele assumiu a Promotoria de Justiça da Comarca da cidade em 1996, e dez anos depois passou a lidar diretamente com a cúpula do PCC, transferida para a região. Desde então, vive sob forte esquema de proteção, com vigilância 24 horas por dia.
Nesta sexta-feira, o Ministério Público e a Polícia Civil deflagraram a “Operação Recon” para desarticular uma célula da facção que planejava atentados contra o próprio Gakiya e contra Roberto Medina, coordenador de presídios do Oeste paulista. Medina é responsável por unidades que abrigam líderes do PCC, incluindo a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
A ofensiva cumpre 25 mandados de busca e apreensão em sete cidades: Presidente Prudente, Álvares Machado, Martinópolis, Pirapozinho, Presidente Venceslau, Presidente Bernardes e Santo Anastácio.
Em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo, exibido em julho, o promotor comparou sua rotina de isolamento à dos criminosos que ajudou a encarcerar. “De certa maneira, eu teria mandado esses criminosos para o isolamento, e eu também fui isolado junto com eles”, disse ao jornalista Pedro Bial.
Gakiya revelou que recebeu o primeiro decreto de morte enquanto estava de licença-paternidade após o nascimento do segundo filho.

O episódio mais grave de confronto entre o promotor e a facção ocorreu em fevereiro de 2019, quando ele assinou o pedido de transferência de 22 chefes do PCC, incluindo Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para presídios federais de segurança máxima.
A operação foi autorizada pelo então ministro da Justiça Sérgio Moro após o Ministério Público descobrir um plano da facção para resgatar seus líderes da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
Meses depois, uma revista em celas do mesmo presídio revelou cartas com ordens de ataques contra autoridades, em retaliação às transferências. Entre os alvos estava novamente o promotor.
A investigação mais recente começou em julho, quando a Polícia Militar prendeu em flagrante o traficante Vitor Hugo da Silva, conhecido como VH.
A análise do celular apreendido com ele revelou um detalhado levantamento sobre a rotina de Roberto Medina, com fotos, vídeos e descrições de seus deslocamentos diários. Em áudios interceptados, criminosos expressavam preocupação com câmeras que poderiam registrar suas ações perto da residência do coordenador de presídios.