Promotor diz que PCC chegou “muito perto” de matar sua família

Atualizado em 24 de outubro de 2025 às 14:25
O promotor Lincoln Gakiya. Foto: Divulgação

O promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, afirmou viver há mais de dez anos sob escolta por ser alvo constante de ameaças do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em entrevista ao ‘UOL News’, ele criticou a ausência de leis federais que garantam proteção efetiva a autoridades ameaçadas, inclusive após a aposentadoria.

Segundo Gakiya, o crime organizado tem elaborado planos detalhados para matá-lo, com monitoramento de rotina e o uso de drones para vigiar sua família. Ele atua há duas décadas em investigações contra o PCC e disse que o Estado costuma agir apenas de forma reativa, quando os planos já estão em andamento.

Ele lembrou o caso do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, assassinado em setembro na Praia Grande, e afirmou que a morte dele está ligada à mesma ordem que previa sua execução e a do diretor de presídios Roberto Medina.

O promotor afirmou que o grupo criminoso mantinha vigilância sobre os três, com imagens aéreas, registros de rotina e até identificação de veículos. Uma operação deflagrada nesta sexta-feira (24) cumpriu 25 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de integrar o plano de execução.

De acordo com o Ministério Público, as investigações revelaram que Medina e Gakiya eram acompanhados por criminosos de Presidente Prudente, responsáveis por repassar informações à chamada “sintonia restrita” do PCC, célula dedicada exclusivamente a ataques contra autoridades e resgates de líderes da facção.

Ele explicou que essa estrutura funciona como um “departamento de homicídios” dentro do PCC, formado por criminosos com experiência militar e treinamento em armamento pesado. Essa mesma célula já havia planejado atentados contra o senador Sergio Moro e outras autoridades.

O senador Sergio Moro. Foto: Divulgação

Gakiya afirmou que as investigações indicam o mesmo padrão de ação usado no monitoramento de Ruy Ferraz. Segundo ele, os criminosos faziam levantamentos sobre o local de trabalho e as residências das vítimas, além de observar a rotina das famílias.

As provas foram obtidas a partir da apreensão de celulares de dois traficantes, presos em junho. Os aparelhos continham mapas, fotos, horários e informações detalhadas sobre Gakiya e Medina, o que permitiu desmontar o plano antes da execução.

Gakiya também revelou preocupação com a falta de amparo legal após a aposentadoria de promotores e policiais ameaçados. Ele defendeu a retomada do trecho do pacote anticrime que previa um programa de proteção permanente para autoridades sob risco. “Hoje não tenho garantia legal alguma. Quando a gente se aposenta, fica esquecido. Mas o crime não esquece”, afirmou.

O promotor lembrou que, desde 2012, ele e outras autoridades já constam em “salves”, ordens de execução emitidas pelo PCC. Em 2019, Ruy Ferraz foi jurado de morte por ter transferido líderes da facção para presídios federais.

Gakiya concluiu dizendo que a rotina sob ameaça “é aterrorizante”, mas que continuará exercendo suas funções. “A gente consegue deter alguns planos, mas sabe que eles nunca param. Quando a lei não protege quem combate o crime, todos ficam vulneráveis.”

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.