
Centenas de jovens evangélicos se reuniram na Praça do Relógio, no campus Butantã da USP (Universidade de São Paulo), em um evento que combinou música, pregações e declarações políticas. Organizado pelo Dunamis Movement, o encontro reuniu estudantes de várias faculdades paulistas e contou com gritos de “A USP pertence a Jesus Cristo” e críticas diretas a Karl Marx e ao comunismo. Com informações do periódico assinado pelos alunos da ECA/USP.
O culto, que não tinha autorização da universidade, foi classificado como inédito em dimensão e ocorreu na noite de 29 de agosto. O “Dunamis Movement” é uma organização evangélica criada em 2008 pelo pastor Teo Hayashi, filho da pastora pentecostal Sarah Hayashi. Inspirado em experiências americanas, o grupo aposta em uma estética moderna e linguagem voltada à geração Z, misturando inglês, música pop e elementos de grandes eventos de entretenimento.
Hayashi estudou psicologia na Liberty University, instituição cristã fundada pelo conservador Jerry Falwell, e afirma ter o objetivo de evangelizar universitários brasileiros. O evento contou com a participação do influenciador e pregador Nick Moretti, que comparou a missão dos fiéis a uma “batalha espiritual”.
“Você está em guerra, acho que não entendeu, mas você está em guerra”, disse ao público. Ele conclamou os presentes a “derrubar falsos deuses” e “consagrar a USP a Cristo”. Segundo a Prefeitura do Campus, o som do evento chegou a mais de 700 metros de distância, provocando queixas de moradores e funcionários.
Moretti gravou trechos do evento evangélico na USP. Veja:
Durante as pregações, Moretti e outros oradores atacaram temas como o comunismo, dizendo que a ideologia é “contrária a Deus”. Fiéis oraram pela “purificação espiritual” da universidade e relataram supostos milagres, entre eles, curas de miopia, crescimento de pernas e recuperação instantânea de uma fratura. O culto terminou por volta das 22h, mas os participantes permaneceram no local por mais de uma hora após o encerramento.
A Reitoria e a Procuradoria-Geral da USP não se manifestaram sobre a pregação. A Prefeitura do Campus negou ter concedido qualquer autorização e informou que só tomou conhecimento da reunião após o ocorrido. Apesar das irregularidades, a segurança universitária não interveio, classificando o encontro como “mais uma festa universitária”.
Pesquisadores ouvidos pelo Jornal do Campus veem o episódio como parte de um movimento maior de afirmação política entre jovens evangélicos. O sociólogo Renan William dos Santos, doutor pela USP, afirma que esse novo protestantismo busca ocupar espaços simbólicos do país e “ressignificar” a imagem do crente.
“Eles combinam estética moderna e discurso conservador, buscando se diferenciar e desafiar a cultura universitária”, diz.