
O roubo das joias da coroa francesa no Museu do Louvre, em Paris, reacendeu o debate sobre a ausência de seguro em parte do acervo mais valioso do mundo. As peças, avaliadas em cerca de 88 milhões de euros (R$ 550 milhões), pertenciam à imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão III, e estavam expostas na Galeria de Apolo. Segundo o Ministério da Cultura da França, o museu não será compensado financeiramente pelas perdas, já que o tesouro não possuía cobertura contra roubo.
A ausência de seguro é uma política deliberada do governo francês. Grandes museus, como o Louvre e o d’Orsay, têm o Estado como seu próprio segurador — uma prática adotada para evitar os custos exorbitantes de contratos privados. “O valor de um seguro para o Louvre seria proibitivo. O governo opta por assumir o risco diretamente, como ocorreu também com a Catedral de Notre-Dame”, explicou Nicolas Kaddeche, diretor técnico da empresa Hiscox Assurances France, ao New York Times.
O Louvre exibe apenas 7% de seu acervo, o que significa que mais de 500 mil peças ficam armazenadas fora de exposição. Um seguro tradicional para todo esse patrimônio custaria bilhões de euros por ano, tornando o modelo inviável. Por isso, os investimentos se concentram em segurança e infraestrutura, com equipes especializadas e brigadas de incêndio permanentes.

Segundo especialistas, o caso revela as fragilidades de um sistema que depende mais de vigilância do que de proteção financeira. O museu já enfrentou outros episódios de furto — o mais famoso em 1911, quando a Mona Lisa foi roubada e só recuperada dois anos depois. Em décadas seguintes, peças menores também desapareceram, inclusive durante o período da ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial.
As joias da coroa pertencem ao acervo nacional francês, protegido por uma legislação que impede sua venda, doação ou transferência. Por estarem sob posse do Estado, elas não podiam ser seguradas por meio de contratos privados. Na prática, cabe ao governo arcar com os custos e as operações de recuperação das peças roubadas.
O seguro só é exigido em situações específicas, como empréstimos a outras instituições. Em 2018, por exemplo, o transporte da Mona Lisa para o Louvre de Lens foi descartado após o orçamento do seguro chegar a 35 milhões de euros. A prioridade, segundo o Ministério da Cultura, é reforçar sistemas de monitoramento e revisar protocolos de segurança após o crime.