Sakamoto: Trump faz afago e não bullying em Lula na Malásia para aflição de Bolsonaro

Atualizado em 26 de outubro de 2025 às 11:02
Donald Trump e Lula conversando, sentados frente a frente
Donald Trump e Lula em reunião na Malásia – Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Preocupava o governo brasileiro na preparação da primeira reunião presencial entre Lula e Trump a coletiva a jornalistas que costuma acontecer junto a encontros de chefes de Estado. Aliados de Jair Bolsonaro torciam para que o norte-americano tentasse constranger o brasileiro, tal como fez com o ucraniano Volodymyr Zelensky e o sul-africano Cyril Ramaphosa. Mas o que se ouviu foram trocas de afagos e cordialidades.

Não apenas porque o terreno é neutro (Kuala Lumpur, na Malásia) e não a Casa Branca, em Washington DC, mas também porque Trump quer um acordo com o Brasil, de olho na inflação dos alimentos dentro dos Estados Unidos, nas necessidades de parceria estratégica diante da disputa com a China (o que envolve terras raras e outras matérias-primas, mas também mercado), na tentativa de obter privilégios às big techs.

Na coletiva aos colegas jornalistas, ao invés do bullying, Trump deu boas declarações sobre Lula e apontou que as perspectivas de acordo são grandes: “Nós nos damos muitos bem”, “temos muito respeito pelo seu presidente”, “temos muito respeito pelo Brasil”, “vamos fazer negócios”, “é uma grande honra estar com o presidente do Brasil”, “eu acho que o Brasil está indo bem”, “seremos capazes de fazer alguns bons negócios”, “vamos ter um bom relacionamento”, “chegaremos a uma conclusão [sobre as tarifas] rapidamente”.

Questionado pela imprensa sobre Bolsonaro, Trump disse que se “sente mal” por ele, mas não quis dizer aos repórteres se o assunto seria tocado na reunião. Tratou como assunto lateral. Afinal, America First.

O bolsonarismo se agarrou nisso nas redes, como um náufrago que confunde chumbo com isopor. Lula disse a Trump que o julgamento do ex-presidente respeitou o devido processo legal e não há perseguição política ou jurídica. E reclamou da injustiça da aplicação de sanções contra autoridades brasileiras.

O julgamento de Jair estava citado na carta de Trump como uma das razões que levou às sanções ao Brasil, o que gerou perda de empregos, fechamento de empresas e prejuízos econômicos por aqui. O deputado federal Eduardo Bolsonaro e assessores vêm incitando o governo dos EUA a moverem sanções contra o Brasil para pressionar pela liberdade do pai.

Agora, as equipes de ambos os presidentes vão sentar para tentar costurar acordos. Ao que tudo indica, ao menos por enquanto (porque o governo dos EUA é imprevisível e tudo pode acontecer), Trump e Lula seguem agindo como adultos na sala, enquanto traidores brasileiros ainda tentam tocar fogo no parquinho.