
A postura do presidente Lula sobre a crise na Venezuela durante seu encontro com Donald Trump provocou surpresa entre diplomatas dos Estados Unidos. Segundo a colunista Mariana Sanches, do UOL, o presidente sugeriu atuar como mediador no impasse envolvendo o governo de Nicolás Maduro, uma proposta que não agradou à Casa Branca, que ainda considera possível uma ação militar na região.
De acordo com relatos obtidos pelo ‘UOL News’, Lula foi quem trouxe o tema da Venezuela à mesa de discussão. A iniciativa teria surpreendido o Departamento de Estado, que esperava uma conversa focada em comércio e tarifas. A presença militar norte-americana no Mar do Caribe e as crescentes tensões na fronteira venezuelana foram citadas como contexto da conversa.
“Sabíamos que ele trataria do tema, mas houve surpresa quando se colocou como mediador”, afirmou Sanches. Segundo ela, diplomatas de Washington destacam que Lula não reconheceu as últimas eleições na Venezuela e mantém atualmente uma relação distante de Maduro, o que enfraqueceria sua proposta de intermediação.
Ainda segundo a colunista, figuras influentes da política norte-americana, como o ex-embaixador Richard Grenell e o senador Marco Rubio, afirmaram que “os Estados Unidos não precisam do Brasil para mediar a crise venezuelana”. Para eles, se houver diálogo, ele deve ocorrer dentro das vias diplomáticas já estabelecidas.
O encontro entre Lula e Trump, realizado à margem da Cúpula da ASEAN, na Malásia, também tratou de temas econômicos. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o presidente brasileiro pediu a suspensão temporária das tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras.

“Lula começou dizendo que não havia assunto proibido”, afirmou Vieira. O chanceler classificou a reunião como “muito positiva” e destacou que Trump se comprometeu a dar instruções à sua equipe para iniciar imediatamente um processo de negociação bilateral. “O saldo final é ótimo”, avaliou o ministro.
De acordo com Vieira, a conversa entre os dois presidentes foi “descontraída e muito alegre”. Trump elogiou a trajetória política de Lula, lembrando que ele “foi perseguido, provou sua inocência e voltou à Presidência pela terceira vez”.
O republicano também teria elogiado a habilidade de Lula em manter diálogo com diferentes correntes ideológicas. Foi o primeiro encontro formal entre Lula e Trump. Antes disso, os dois haviam se encontrado brevemente durante a Assembleia Geral da ONU.
À época, Trump disse que “pintou química” entre eles. O diálogo em Kuala Lumpur marca uma tentativa de reaproximação entre os países após anos de atrito diplomático e comercial, intensificados durante o governo Bolsonaro e pelas sanções impostas por Washington a autoridades brasileiras.